Ouro, ouro, ouro - que mais quereriam os conquistadores da América? A cobiça era tanta que levava à credulidade em histórias absurdas, como a da existência da Lagoa Dourada, por exemplo.
Alguns homens que exploraram as terras ocupadas em nome da Espanha teriam ouvido de indígenas que, em algum lugar no interior do Continente, haveria uma lagoa, no fundo da qual jazia tanto ouro como a humanidade jamais pudera sonhar. Não foram poucos os obcecados pela ideia de riqueza fácil que acabaram matando e morrendo na tentativa de encontrá-la. Mesmo levando índios como guias, o lugar jamais foi localizado. Imaginavam algo diferente, leitores?
Curiosamente, a mesma fábula campeava do "lado português" da América. Pero de Magalhães Gândavo, autor do Século XVI, fez a seguinte observação sobre o rio São Francisco, em sua História da Província de Santa Cruz:
"Este rio procede de um lago mui grande que está no íntimo da terra, onde afirmam que há muitas povoações, cujos moradores (segundo fama), possuem grandes haveres de ouro e pedraria." (¹)
É claro que Gândavo jamais estivera na nascente do São Francisco, mas parecia não ter problemas em afirmar a existência de "povoações", "moradores", "ouro e pedraria" no interior de um lago. Não satisfeito, voltaria ao assunto na mesma obra:
"Principalmente é pública fama entre eles [os indígenas] que há uma lagoa muito grande no interior da terra donde procede o rio de São Francisco, de que já tratei, dentro da qual dizem haver algumas ilhas e nelas edificadas muitas povoações, e outras ao redor dela muito grandes onde também há muito ouro, e mais quantidade, segundo se afirma, que em nenhuma outra parte desta província." (²)
Até mesmo gente que se supunha de muito siso acabava caindo no conto da Lagoa Dourada. Gabriel Soares, autor do Tratado Descritivo do Brasil em 1587, foi um dos que resolveram procurá-la. Pior para ele, como verão já e já os leitores, pelo que contou Frei Vicente do Salvador em sua História do Brasil, escrita na primeira metade do Século XVII:
"O intento que Gabriel Soares levava nesta jornada era chegar ao rio de São Francisco, e depois por ele até a Lagoa Dourada, donde dizem que tem seu nascimento, e para isso levava por guia um índio de nome Guaracy, que quer dizer sol [...]."
Acontece que muitos dos expedicionários adoeceram no sertão e lá mesmo morreram. Morreu Gabriel Soares, morreu o índio Guaracy.
Quanto à Lagoa Dourada? Nem sinal dela.
(1) GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil: História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos Brasil. Brasília: Ed. Senado Federal, 2008, p. 97.
(2) Ibid., pp. 154 e 155.
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