Era estratégia dos missionários jesuítas que vieram ao Brasil no Século XVI: sempre que faziam contato com um grupo de indígenas e iniciavam a catequese, tratavam de obter daquela comunidade a permissão para construir uma igreja ou capela em sua aldeia. Explicou o padre Simão de Vasconcelos, em obra datada do Século XVII:
"A primeira coisa que procuraram todos estes pregoeiros do Evangelho foi que os índios catecúmenos fizessem capelas e igrejas acomodadas a suas aldeias, para nelas lhes administrarem o culto divino e necessários sacramentos." (¹)
Assim que o pequeno local de culto ficava pronto, os padres da Companhia de Jesus começavam a efetuar ali os seus ofícios religiosos. Ora, isso atraía a atenção, mesmo que só por curiosidade, até daqueles que não demonstravam interesse pelos ensinos dos padres. Construir uma capelinha era, então, abrir a porta para a catequese mais ampla.
Outra razão para a existência de uma capela é que, tendo os padres constatado que muitos grupos indígenas eram seminômades, pensavam que com algum estabelecimento permanente (como uma igreja ou capela), os naturais da América, desistindo do costume de mudar a aldeia de lugar, adotariam um estilo de vida sedentário, que os missionários consideravam mais favorável aos seus propósitos. De fato, em alguns casos foi exatamente o que aconteceu, sem falar que, não poucas vezes, governadores-gerais, depois que faziam guerra aos indígenas, estipulavam, como uma das condições para a "paz", que os ameríndios deixassem seus costumes ancestrais e fossem viver em uma aldeia controlada pelos padres.
Ninguém deve imaginar, porém, que as capelas edificadas em aldeias indígenas eram belos templos na melhor alvenaria. Nada disso. Eram construções muitíssimo simples, feitas com qualquer material que estivesse disponível, quase sempre com aquilo que os próprios índios usavam em suas habitações. Aliás, na grande maioria das vezes, eram construídas com mão de obra indígena - voluntariamente ou não. Para que os leitores tenham uma ideia de como eram as ditas capelas, basta notar a humilde descrição daquela que foi a primeira a ser construída em Piratininga, junto ao Colégio de São Paulo: "Fizeram juntamente igreja de taipa de mão, coberta de palha, acomodada à ocasião de tempo." (²)
Tão frágeis eram algumas dessas edificações que, narrando as façanhas atribuídas ao padre Belchior de Pontes, o também padre jesuíta Manoel da Fonseca observou que uma igreja, na Aldeia de Nossa Senhora da Escada, estava em tão má situação que só não vinha abaixo porque era sustentada por escoras:
"Estava a igreja desta aldeia [Nossa Senhora da Escada] arruinada, e para que de todo não caísse, estavam arrimados à parede alguns espeques. Sentiam os índios vê-la naquele estado, e queixando-se em uma ocasião, a tempo em que o padre Pontes por ali passava, ele lhes disse que só depois da sua morte se faria igreja nova. Sucedeu assim, porque conservando-se naquele estado alguns anos, depois de sua morte se fez nova fábrica." (³)
Como regra geral, as primitivas capelinhas, feitas com material pouco durável, foram logo substituídas por construções mais resistentes. Dessas últimas, poucas também restaram, já que um sentido equivocado de progresso levou à demolição de muitas construções coloniais (que deveriam ser alvo de preservação), para que, em seu lugar, outras fossem edificadas.
Como regra geral, as primitivas capelinhas, feitas com material pouco durável, foram logo substituídas por construções mais resistentes. Dessas últimas, poucas também restaram, já que um sentido equivocado de progresso levou à demolição de muitas construções coloniais (que deveriam ser alvo de preservação), para que, em seu lugar, outras fossem edificadas.
(1) VASCONCELOS, Pe. Simão de S.J. Crônica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil vol. 1 2ª ed. Lisboa: Fernandes Lopes, 1865, p. 55.
(2) Ibid., p. 91.
(3) FONSECA, Manoel da, S.J. Vida do Venerável Padre Belchior de Pontes, da Companhia de Jesus da Província do Brasil. Lisboa: Off. de Francisco da Silva, 1752, p. 196 (Reedição da Cia. Melhoramentos de S. Paulo).
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