sexta-feira, 20 de maio de 2016

Como o Brasil foi afetado pela pandemia de gripe espanhola (1918 - 1919)

Propaganda de medicamentos para alívio dos sintomas da gripe: "...as manifestações perigosas
da gripe (...) são verdadeiros espectros, que ameaçam a todos os povos agora mais que nunca..."
(¹)

A pandemia de gripe que varreu o mundo entre 1918 e 1919 é chamada "espanhola", mas, ao que se sabe, não começou na Espanha, havendo certa polêmica sobre a origem dos primeiros casos. De qualquer modo, soldados da Entente, em abril de 1918, foram as primeiras vítimas militares em território europeu (a Espanha, na Primeira Guerra Mundial, era não beligerante). A gripe vinha juntar-se, portanto, aos já numerosos flagelos ocasionados pela guerra, com o agravante de que, aliada à alta taxa de mortalidade, a pandemia parecia ter preferência por gente jovem e cheia de saúde, o que não a impedia de afetar, também, os de mais idade.
O fim da Primeira Guerra Mundial favoreceu a propagação da doença, já que os soldados que voltavam para casa acabaram levando a gripe para muitos lugares diferentes. É verdade que, nesse tempo, os transportes intercontinentais eram feitos apenas em navios, o que, por um lado, retardava a chegada de enfermos, mas, por outro, a convivência em embarcações apinhadas favorecia a contaminação. Mesmo com a adoção de medidas de controle, pessoas aparentemente saudáveis desembarcavam e, em terra, manifestavam os sintomas da temida doença.
Levantamentos estatísticos têm demonstrado que uma primeira fase de transmissão, ocorrida entre abril e agosto de 1918, foi de pouca gravidade, mas, a partir de setembro, a mortalidade disparou, indo essa fase gravíssima até fins de janeiro de 1919. A gripe espanhola ainda faria vítimas nos meses seguintes, porém menos intensamente. 
É evidente que o Brasil não estava, na época, preparado para lidar com uma pandemia, sendo necessário admitir que, além de tentativas de educar a população quanto a hábitos de higiene que dificultassem a propagação da gripe, não havia muito mais a fazer. A capacidade de atenção hospitalar era reduzida, e o isolamento dos doentes, mesmo necessário, em certos casos favorecia o abandono, com o medo desempenhando, em tal cenário, um papel nada desprezível. 

Escoteiros de São Paulo auxiliando a população durante a pandemia de gripe.
A legenda original dizia: "Os escoteiros saindo da Repartição do Telégrafo Nacional,
no serviço de entrega de despachos durante a epidemia."
(²)

Escoteiros de São Paulo saindo de uma farmácia para fazer a entrega de medicamentos.
Legenda original: "Os bravos escoteiros em serviço de entrega de medicamentos, durante a
epidemia de gripe, nesta capital."
(³)

Embora seja difícil saber quantas pessoas morreram por causa da gripe em terras brasileiras, uma vez que as condições sanitárias deficientes não possibilitavam um controle estrito, há uma estimativa de que o número de óbitos tenha chegado perto de trezentos mil - para uns poucos meses, quando as condições de transporte e comunicações não eram ainda muito favoráveis, foi mesmo um absurdo. Detalhe: entre os mortos, estava o presidente eleito da República, Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves, falecido em janeiro de 1919, e que não chegou a ser empossado no cargo (⁴)

Sepultamento (em Guaratinguetá) do presidente eleito Rodrigues Alves,
que faleceu em consequência da gripe em janeiro de 1919 (⁵)

(1) A CIGARRA, Ano VI, nº 109, 1º de abril de 1919.
(2) A CIGARRA, Ano V, nº 103, 24 de dezembro de 1918. 
(3) Ibid.
(4) Já fora presidente da República entre 1902 e 1906.
(5) A CIGARRA, Ano V, nº 105, 1º de fevereiro de 1919.


Veja também:

2 comentários:

  1. Bom dia, Marta
    Desculpe esta invasão assim "à má fila" - como se diz em Portugal - mas vi um comentário seu no blog da querida amiga Ruthia e resolvi vir espreitar seu espaço.
    Comecei pelo blog de fotografia. Gosto muito de fotografia, e fotografo imenso, mas nada de jeito :))), é só para consumo interno :)))
    Pena que no outro blog não tem espaço para comentários porque essa última foto fez-me lembrar a de um tio meu que viveu uns tempos no Amazonas (há milénios!!!) e tirou uma foto com um pé em cima de um crocodilo que pensavam estar morto e, quando se afastaram, o bicho calmamente foi para o rio. Eu ouvi contar essa história desde que era criança pequenina...
    História! Adoro História. Desde os meus tempos de estudante era uma das disciplinas de que mais gostava. Neste momento estou lendo um livro histórico - "Constança, a Princesa traída por Pedro e Inês" - (sou viciada em leitura). Por isso este blog merece uma visita mais demorada. Voltarei com mais tempo.
    Se quiser aparecer pelo meu humilde espaço... dar-me-á muito prazer.

    Votos de uma semana muito feliz.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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    Respostas
    1. "Invasão"? Ora, seja bem-vinda ao blog "História & Outras Histórias" e também ao "Captando a Luz"!
      É perfeitamente possível que a história de seu tio tenha ocorrido; há algum tempo, jornais brasileiros trouxeram a notícia de um sujeito que caçou em jacaré, achou que o animal havia morrido e colocou-o no porta-malas de seu automóvel. Iniciou, então, a viagem de volta para casa. Quando fez uma parada e resolveu abrir o porta-malas, levou uma mordida brutal no rosto, a ponto de precisar de uma cirurgia de reconstrução facial. Moral da história: é melhor não brincar com jacarés rsrsrsssssss...
      Estava agora mesmo lendo "A Casa da Mariquinhas". Achei particularmente interessante a fábula das árvores ("O Pinheiro"). Verdade, em mais de um sentido, como acontece nas fábulas.
      De fato não há espaço para comentários em "Captando a Luz", mas é algo que posso repensar.
      Não sei se é verdade, mas diz-se que o Google pretende encerrar o Friend Connect, daí porque tenho preferido usar o G+; veja lá, já há mais alguém seguindo seu perfil. Então, um grande abraço, e fico esperando por novas postagens.

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