segunda-feira, 9 de maio de 2016

Por que povos da Antiguidade acreditavam na influência dos corpos celestes sobre a vida quotidiana na Terra


"Então surgiu um cometa, que para a opinião vulgar pressagia a mudança de rei."
                                                                                                                                                Tácito, Annales

Para os povos que criam que os corpos celestes eram divindades, não era muito complicado imaginar que pudessem causar problemas aos pobres mortais que viviam sobre a Terra. Sabe-se, por exemplo, que um eclipse total ocorrido em 763 a.C. foi associado, pelos assírios, a uma série de infortúnios. Funcionava mais ou menos assim: ocorria um eclipse solar e, logo depois, vinha, digamos, uma enchente, uma safra ruim, uma praga de ratos ou gafanhotos - adivinhem leitores, quem era o culpado? - o eclipse, é claro! Interpretava-se a ocultação do deus-sol como um momento de ira celeste, que só podia resultar em desgraças. Podemos facilmente medir o que é que isso significava, se tomarmos em conta o fato de que quase todos os povos antigos tinham alguma personificação do Sol em suas respectivas coleções de deuses.
Por outro lado, um eclipse lunar podia ser considerado como presságio favorável, de acordo com o que contou Tácito (¹), ao descrever uma revolta do exército romano nos dias do imperador Tibério. Estacionados na Panônia, onde eram obrigados a viver em condições de extrema penúria, os soldados começaram uma rebelião, durante a qual ocorreu um eclipse lunar, que, reputado como indicação de favor dos deuses, levou-os a fazer enorme alarido no acampamento. Porém, não demorou para que a Lua fosse ocultada por nuvens, e, dessa vez, o acontecimento foi interpretado como desfavorável. A soldadesca caiu em profundo desânimo, proporcionando assim aos comandantes a oportunidade perfeita para que retomassem o controle e fizessem justiçar os cabeças da revolta, pelo modo típico do exército romano - os cabeças obviamente perderam a cabeça. Mas não foi só. Usualmente, os soldados que queriam mostrar aos comandantes que estavam arrependidos da sedição, tratavam de comprovar esse fato despedaçando os companheiros rebeldes. Os leitores veem, então, que é melhor voltar ao assunto da suposta influência dos planetas, estrelas, cometas, etc. sobre o destino dos homens...
A questão é que, mesmo quando a crença nos deuses arrefeceu, a humanidade continuou a achar que, de algum modo, os corpos celestes tinham poder para trazer calamidades e espalhar doenças. No Século XVI, cometas eram particularmente temidos, mas nem a Lua, tão próxima e tão familiar, estava isenta da acusação de causar dano à integridade física dos terráqueos. Em um relato de 1585, cuja autoria é atribuída ao padre José de Anchieta, observa-se que, no Brasil, "a lua é mui prejudicial à saúde e corrompe muito as coisas [...]." (²) 
Ah, então é ela a culpada!

(1) Annales, Livro I.
(2) ANCHIETA, Pe. Joseph de, S.J. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões. 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933, p. 424.


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2 comentários:

  1. Culpada da corrupção dos políticos e da crise económica, da ganância humana e da destruição dos recursos. Maldita sejas, Lua!!!!

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