"Batelão" era o nome dado a cada uma das enormes canoas que, ao tempo das monções cuiabanas, eram usadas nas viagens pelo Tietê, Paraná e outros rios. Partia-se de Porto Feliz - então chamada Araraitaguaba (*) - mas o retorno podia ser pelo próprio Tietê ou, em época de grandes chuvas, pelo rio Piracicaba.
Os batelões eram, com frequência, construídos a partir do tronco de uma única árvore, o que era possível porque, naquela época, havia ainda matas em São Paulo com árvores enormes.
Habitualmente, a tripulação de um desses batelões era composta por oito homens com prática na navegação dos rios, incluindo um piloto (que viajava na popa), um proeiro e seis indivíduos de muita força para remar contra a corrente, habilitados, inclusive, para o uso de varejões em lugar de remos, quando era preciso atravessar as perigosas corredeiras. Entendam os leitores que o número de tripulantes podia variar, ainda que oito fosse o padrão.
Ora, cada uma dessas embarcações devia levar, também, os respectivos monçoeiros e sua bagagem. Em alguns casos, até animais eram transportados. Vê-se, pois, quão árdua era a tarefa dos remadores que, não raro, eram escravos. Assim carregado, um batelão deslizava pelo leito dos rios, rumo ao interior do Brasil, ficando a borda apenas uns poucos centímetros acima do nível da água.
Era preciso coragem, mas a esperança de enriquecimento com o ouro levou muita gente a correr todos os riscos, que não eram relacionados somente à navegação. Havia também as doenças, a fome, os ataques de indígenas (paiaguás e guaicurus, entre outros), as chuvas torrenciais e, pequenos mas insuportáveis, mosquitos que tornavam a viagem uma rota infernal.
Foi assim que se explorou e povoou uma parte considerável do interior do Brasil. Quem ia, queria enriquecer. Voltar? Era apenas incerteza.
Parte que resta de um batelão monçoeiro (Parque das Monções, Porto Feliz - SP) |
(*) Os leitores não terão muita dificuldade em compreender a razão para a mudança de nome dessa localidade...
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