sexta-feira, 13 de março de 2015

Todos prontos para fugir dos corsários

Os colonizadores portugueses que se estabeleceram no Brasil durante o Século XVI enfrentavam, no que se referia à defesa de suas povoações, duas grandes ameaças, vindo uma do interior da Colônia e outra do exterior - melhor dizendo, do mar.
No primeiro caso, os confrontos com indígenas eram frequentes, desde que estes perceberam que colonizadores queriam não somente viver nas terras da América, como também servir-se do trabalho da população nativa. Gratuitamente, aliás. Era, pois, uma situação que só podia resultar em lutas sangrentas. Tendo perspectivas muito diferentes quanto aos propósitos da vida, europeus e ameríndios enfrentaram-se, com variada intensidade, até que prevaleceu quem tinha armas mais eficientes.
A outra grande ameaça às povoações coloniais vinha do mar; corsários e piratas (¹) atacavam para roubar o que lhes pudesse ser útil, como alimentos, por exemplo, ou aquilo que se venderia por bom preço na Europa.
As vilas coloniais eram pobremente defendidas. Se tinham algum tipo de muro, ou este era apenas de taipa, ou não passava de uma cerca. Armas de maior calibre eram pouco numerosas. As povoações seriam, portanto, uma presa fácil, conforme escreveu Gabriel Soares em fins do Século XVI: "Se nisto caírem os corsários, com mui pequena armada assenhorear-se-ão desta província por razão de não estarem as povoações dela fortificadas, nem terem ordem com que possam resistir a qualquer afronta que se oferecer." (²)
Então, quando se avistava, ao longe, alguma embarcação desconhecida, a população ficava de prontidão para, sendo necessário, fugir para o mato, levando consigo o pouco que poderiam salvar. Continua Gabriel Soares:
"Vivem os moradores dela tão atemorizados, que estão sempre com o fato entrouxado para se recolherem para o mato, como fazem com a vista de qualquer nau grande, temendo-se serem corsários; a cuja afronta Sua Majestade deve mandar acudir com muita brevidade, pois há perigo na tardança, o que não convém que haja." (³)
Conselho prudentíssimo, esse, embora pouco considerado, à vista dos inúmeros ataques ocorridos contra as povoações litorâneas, ao longo dos dois primeiros séculos da colonização. O fato de que a população se mostrava pronta a fugir em caso de ameaça é uma evidência de que se reconhecia a defesa como impossível. Ladrões do mar andavam muito bem informados e equipados: a terra, riquíssima por natureza, tinha muito a oferecer, sendo a produção de açúcar dos engenhos um atrativo (ou tentação) a mais. O roubo, muitas vezes, compensava. 

(1) Tecnicamente, corsários estavam a serviço do governo de algum país, enquanto que piratas atacavam para fins particulares. Na prática, eram todos ladrões do mar.
(2) SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Rio de Janeiro: Laemmert, 1851, p. 14.
(3) Ibid.


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