terça-feira, 8 de maio de 2012

O vestuário masculino nas Minas Gerais no início do Século XVIII

Antonil (ou Andreoni, como quiser o leitor), investigou a fundo o modo de vida nas regiões produtoras de riquezas do Brasil Colonial e, embora enfrentando uma proibição de ir às Minas, ainda assim interrogou os que lá estiveram e deixou disso um importantíssimo relato, no qual constam os preços que os mineradores estavam dispostos a pagar por artigos necessários à subsistência.
Referindo-se aos preços que eram praticados no comércio de vestuário nas Minas, Antonil faz, indiretamente, uma lista do que se vestia na época, sendo conveniente lembrar que, em virtude da abundância de ouro, era comum que se buscasse ostentar riqueza, daí a existência, na lista abaixo, de preços para artigos comuns e também para peças de melhor qualidade:

"Por uma casaca de baeta ordinária, doze oitavas.
Por uma casaca de pano fino, vinte oitavas.
Por uma veste de seda, dezesseis oitavas.
Por uns calções da pano fino, nove oitavas.
Por uns calções de seda, doze oitavas.
Por uma camisa de linho, quatro oitavas.
Por umas ceroulas de linho, três oitavas.
Por um par de meias de seda, oito oitavas.
Por um par de sapatos de cordovão (¹), cinco oitavas.
Por um chapéu fino de castor, doze oitavas.
Por um chapéu ordinário, seis oitavas.
Por uma carapuça de seda, quatro ou cinco oitavas.
Por uma carapuça de pano forrada de seda, cinco oitavas." (²)

Os preços, como se vê, são exorbitantes, considerando que uma oitava equivale a aproximadamente 3,6 gramas de ouro. Não se fala em moeda circulante, as cotações são dadas em metal precioso.
Curiosamente, o Padre Antonil só mencionou vestuário masculino (³). Eram os homens, nesse tempo, muito mais numerosos nas minas do que as mulheres, por razões que não são difíceis de imaginar, em que se considerem os costumes da época. Uma consequência disso é que, em uma realidade na qual a mão de obra para extração aurífera era indispensável, o que significava, também segundo os costumes da época, a compra de escravos jovens e vigorosos, o preço de uma escrava podia ser ainda mais alto que o de seus companheiros de infortúnio pertencentes ao sexo masculino: se um escravo qualificado chegava a custar, ainda de acordo com Antonil, umas quinhentas oitavas, uma escrava mulata podia chegar a seiscentas ou mais. Os meus leitores não terão dificuldades em interpretar o triste significado disso.
Acontece que, gradualmente, mineradores passaram a estabelecer-se em definitivo nas minas (o que conduziu à urbanização), constituindo famílias ou fazendo transportar para lá as que já tinham em outro lugar. Por essa razão, a população de São Paulo, por exemplo, declinou bastante - bandeirantes iam e voltavam, mineradores ficavam em definitivo.

(1) Couro de cabra empregado na fabricação de calçados.
(2) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas. Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1711, pp. 141 e 142.
(3) É pouco provável que a "veste de seda", mencionada na lista fosse referência a indumentária feminina, porque seu preço, dezesseis oitavas, não está muito distante do atribuído aos calções de seda, que era de doze oitavas. Os vestidos usados pelas mulheres desse tempo consumiam metros e metros de tecido, o que resultaria em peças muito mais dispendiosas que as aqui citadas.


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