terça-feira, 21 de setembro de 2021

Penas de metal e canetas-tinteiro

Até meados da década de 50 do Século XX, quase todas as crianças, em suas tarefas escolares, deviam usar um lápis ou uma caneta como esta, composta por um bastão de madeira e uma pena de metal:


O processo de escrita era simples: a pena era mergulhada na tinta disponível em um
tinteiro e, a seguir, usada para traçar o que se quisesse sobre o papel. O grande inconveniente é que a tinta durava pouco, sendo preciso, portanto, que a pena fosse mergulhada no tinteiro muitas vezes, até que aquilo que se escrevia estivesse concluído. Percebe-se, desse modo, que a escrita era um tanto morosa. As canetas esferográficas, muito mais práticas e comercializadas desde meados do Século XX, eram, por pura implicância, ainda rejeitadas na maioria dos estabelecimentos de ensino. Só posso concluir que havia quem preferisse a lentidão, as páginas de caderno borradas, os tinteiros entornados sobre as carteiras ou rolando, já quebrados, sobre o piso das salas de aula. Algum tempo se passou e, como sempre, a praticidade venceu o conservadorismo.
No entanto, muito antes das esferográficas, já havia uma alternativa para quem escrevia habitualmente. Falo das canetas-tinteiro, cujo invento, resultante de um longo processo de aperfeiçoamento, levou à produção desses novos objetos para escrita em escala comercial a partir das últimas décadas do Século XIX. Nelas, um pequeno tubo deveria ser abastecido com tinta, permitindo escrita contínua por tempo razoável. Porém, tinham, a princípio, um defeito muito sério: a tinta podia vazar, danificando o papel em que se escrevia, ou, pior ainda, sujando a roupa de quem levasse uma caneta dessas no bolso.
Este anúncio (*), publicado em julho de 1916, oferecia uma caneta-tinteiro que prometia, aliada à simplicidade, a virtude de não apresentar vazamentos:


Com tantas alternativas simples e econômicas para escrita, canetas-tinteiro tornaram-se, hoje, objetos de luxo - algumas são verdadeiras obras de arte - usadas por quem gosta delas ou, ainda, por calígrafos. Já que agora fazemos uso contínuo de meios digitais para escrever, não é impossível que, dentro de algum tempo, pouca gente venha a saber para que é que servem as canetas, sejam elas de que tipo forem.

(*) O ECHO, Ano XV, nº 1, julho de 1916.


Veja também:

6 comentários:

  1. Para além de se tentar "desenhar" a letra com as dimensões adequadas, tenho para mim que o grande desafio era chegar ao fim da empreitada sem sujar nada. tarefa inglória, na maioria das vezes. :)

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    1. É isso mesmo. As manchas de tinta nos móveis escolares antigos comprovam sobejamente essa ideia.

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  2. Só uso caneta tinteiro, isso desde 1975. Mesmo sendo canetas de qualidade, quantos tinteiro estornado, camisas com os bolsos manchados, dedos sujos de tinta (sou cabhoto)... mas não troco e nem altero minha forma de com o que escrever. As vezes, os defeitos formam a virtude.

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    1. Olá, Luis Carlos, a blogueira também é canhota rsrrsssss... A despeito disso, gosto muito de canetas-tinteiro, de caligrafia artística (como hobby), embora, por sorte, nunca tenha entornado um tinteiro. Acho que é muita sorte, mesmo.
      Obrigada por ler e comentar!

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  3. Respondi pelo celular. Eu poderia ter tido mais cuidado ao digitar... nossa quantos erros, quanto tinteiros entornados, não estornados..., canhoto (na verdade sou ambidestro) e, certamente nunca "cabhoto", finalmente, "não altero minha forma de como e, principalmente, com o que escrever. Nem vou corrigir a crase faltante

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