Tauromaquia entre os cretenses na Antiguidade
A julgar pelas representações encontradas nas ruínas de Cnossos, a tauromaquia era uma paixão entre os antigos cretenses. Rapazes e moças foram retratados a dar saltos, parecendo dançar, até, diante de touros de aparência nada afável. Tudo isso tem recebido várias interpretações, desde atividade esportiva até prática cultual, mas a mania de tirar a paz dos touros persistiu em outras culturas - se os cretenses influenciaram outros povos, ou mesmo se compartilharam suas tradições, não sabemos ainda, ao menos de forma conclusiva.
Touradas no Brasil
A julgar pelas representações encontradas nas ruínas de Cnossos, a tauromaquia era uma paixão entre os antigos cretenses. Rapazes e moças foram retratados a dar saltos, parecendo dançar, até, diante de touros de aparência nada afável. Tudo isso tem recebido várias interpretações, desde atividade esportiva até prática cultual, mas a mania de tirar a paz dos touros persistiu em outras culturas - se os cretenses influenciaram outros povos, ou mesmo se compartilharam suas tradições, não sabemos ainda, ao menos de forma conclusiva.
Mural cretense com jovens e um touro (¹) |
O Brasil não é conhecido pela prática de touradas e, já há bastante tempo, consideradas crueldade contra animais, são proibidas em todo o país. Convençam-se, porém, leitores: elas já aconteceram por aqui, e algumas cidades já tiveram lugares específicos para que homens e animais se enfrentassem. A tradição desses espetáculos sangrentos veio com os colonizadores (que também trouxeram os touros, inexistentes na América antes da chegada de europeus).
Praça de touros na primeira capital do Brasil
Gabriel Soares, senhor de engenho e explorador do território ainda pouco conhecido do Brasil, escreveu, no Século XVI, ao falar da Cidade da Bahia (Salvador), a primeira capital, fundada por Tomé de Sousa em 1549:
"Está no meio desta cidade uma honesta praça, em que se correm touros quando convém [...]." (²)
E quando é que convinha? Gabriel Soares não disse, mas podemos supor, com razoável chance de acerto, que a "conveniência" devia andar associada às festas religiosas e/ou populares, tão frequentes naqueles dias.
As touradas do "tempo do rei"
"Tempo do rei" é como se chamava, durante o Império, aos anos em que a Corte portuguesa permaneceu no Rio de Janeiro (1808 - 1821). O rei, portanto, era D. João VI. Ora, de acordo com C. Schlichthorst, um militar alemão contratado para o Segundo Batalhão de Granadeiros, touradas eram realizadas no período joanino, embora não chegassem a ser um sucesso retumbante:
"No tempo do Rei, às vezes havia touradas, pouco aplaudidas, porque os touros daqui são moles [sic], sendo impossível excitá-los ao ponto de tornar esses divertimentos tão perigosos como interessantes." (³)
Questão de ponto de vista, é claro: duvido que touros considerassem (ou considerem) as touradas interessantes. Estão de acordo, leitores?
Touradas em Santos - SP
O anúncio ao lado já é dos tempos da República; apareceu no Diário de Santos, edição de 5 de julho de 1907, em primeira página:
"Se o tempo permitir terá lugar, depois de amanhã, no redondel à rua Amador Bueno, uma grande tourada na qual exibir-se-á o rival de D. Tranquedo [sic] e o espada d. Galvecito que toureará um bicho, com pernas de pau."
A redação do comunicado é um tanto deficiente, pela falta de clareza quanto a quem seria o usuário das pernas de pau, se d. Galvecito ou se o bicho (apesar da vírgula), ou se as pernas de pau é que seriam usadas para tourear... O contexto, porém, permite alguma inferência, naturalmente.
Pondo de lado o aspecto cômico da questão, cabe recordar que, sendo o principal porto do Brasil na época, graças às exportações de café, Santos atraía muitos imigrantes. Não surpreende que, entre eles, houvesse numerosos apreciadores de touradas. Sérias ou não.
(1) EVANS, Arthur. The Palace of Minos Vol. 3. London: Macmillan and Co., 1930, p. 213. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Rio de Janeiro: Laemmert, 1851, p. 118.
(3) SCHLICHTHORST, C. O Rio de Janeiro Como É (1824 - 1826). Brasília: Senado Federal: 2000, p. 130.
Veja também:
Marta,
ResponderExcluirPor aqui, para além do significado clássico, o termo tourada é, normalmente, associado a algo fora do comum, mas de consequências desagradáveis, que ninguém deseja. Talvez este significado, provavelmente, tenha a ver com o divórcio entre a classe dominante - com posses para as touradas com touro - e a restante população, a quem mais nada restava que fazer, de vez em quando, umas "touradas"... ;)
Desejo-lhe um excelente final de semana :)
Hmmm, muito interessante esse outro significado. A elasticidade semântica às vezes surpreende.
ExcluirObrigada por comentar; tenha um ótimo final de semana.
Partilho da sua descrença em relação aos touros encontrarem algum interesse nesse tipo de "espectáculo". Quero ainda ser viva no dia em que, finalmente, se considerar um absurdo esses eventos e sejam proibidos por lei.
ResponderExcluirAbraço
Ruthia d'O Berço do Mundo
P.S. gostei desses touros "moles", haha
Há quem diga que as touradas são eventos culturais. Se a lógica for essa, teremos de admitir que, no passado, a antropofagia também era característica de várias culturas, mas nem por isso sua prática é admitida, defendida ou valorizada.
ExcluirNão sei como alguém pode achar graça em torturar animais. No Brasil as touradas são proibidas, assim como lutas entre animais (como galos e cães, por exemplo). Apesar disso, às vezes a polícia precisa entrar em ação para garantir o cumprimento da lei e a punição dos infratores.
Pois em Portugal e Espanha os adeptos dessa argumentação "cultural" continua muito acérrima, infelizmente, pelo menos que que à tourada diz respeito
ExcluirTalvez porque a "argumentação cultural" seja útil para disfarçar interesses econômicos...
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