sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Para garantir que Nero tivesse ouvintes

Nero, imperador romano, gostava de cantar em público


Nero (¹) 
Nero, o imperador romano, achava que era um grande cantor. E, como tal, supunha, também, que qualquer pessoa ficaria encantada por ouvi-lo, horas a fio, sem mesmo se dar conta da passagem do tempo. Na prática, contudo, era preciso forçar a permanência do público que ia ao teatro para ouvir as canções, não do imperador, mas daqueles que eram cantores de verdade. Direto ao assunto: as portas eram trancadas e muito bem vigiadas, para que ninguém ousasse sair por elas, afoitamente, tão logo os verdadeiros profissionais terminavam o canto, para não ter de suportar a tortura auditiva proveniente da voz imperial. Valiam, de acordo com Suetônio, até algumas estratégias pouco dignas para escapar:
"[...] Há quem afirme que durante o espetáculo, houve mulheres que deram à luz (²); alguns, já cansados de ter de ouvir e aplaudir, pularam o muro, enquanto outros fingiram que haviam morrido, para que fossem levados dali para o enterro." (³)
Enquanto isso, quase sempre com acompanhamento de um instrumento de cordas, Nero cantava, cantava, e era aplaudido. Ai se não fosse!

(1) Cf. HEKLER, Anton. Die Bildniskunst der Griechen und Römer. Stuttgart: Julius Hoffmann, 1912, p. 183. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) Porque não tinham permissão para sair, em busca de lugar mais adequado e com a devida assistência de uma parteira.
(3) SUETÔNIO, De vita Caesarum, Livro VI. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.


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