Esta é uma daquelas lendas piedosas que circulavam no Brasil Colonial. Tratava-se de um frade franciscano que viveu no Espírito Santo, cujo nome era frei Pedro de Palácios. Isolado, no Monte da Senhora da Penha, tinha, contudo, dois companheiros, um cão e um gato. Mas como se arranjava o frade quando era preciso fazer alguma viagem?
É aí que entra a narrativa simpática, até divertida, mas um tanto inverossímil. Foi contada por frei Antônio de Santa Maria Jaboatão (²), franciscano como frei Pedro:
É verdade que farinha de mandioca foi, em muitos lugares, o principal alimento nos tempos coloniais, mas alimento para pessoas, não para cães e gatos. Quem é que já viu algum bichano lambendo os beiços por farinha? Talvez só comessem se não tivessem outra coisa e, no limite da fome, tratassem de engolir a estranha ração. Mas é difícil de crer. Se fossem pratos de leite ou carne, talvez nada sobrasse de um dia para outro.
É aí que entra a narrativa simpática, até divertida, mas um tanto inverossímil. Foi contada por frei Antônio de Santa Maria Jaboatão (²), franciscano como frei Pedro:
"[...] Por companheiros mudos, mas fiéis, da sua solidão, [frei Pedro de Palácios] conservou por todo o tempo que ali viveu, um gato e um cachorrinho, e quando saía aos seus exercícios de esmola ou doutrina, tantos dias determinava estar ausente, quantos montinhos de farinha lhes deixava ali, e falando com eles, lhes dizia, apontando-lhes os montinhos de farinha: irmão Gato (assim o tratava, e mais ao companheiro), eu hei de estar tantos dias fora, aqui ficam estas rações para vós outros ambos, uma para cada dia, e esta última a haveis de comer depois que eu aqui chegar; e assim o fazia; e assim o depôs a testemunha André Gomes, que sendo rapaz, acompanhava o servo de Deus nas saídas que fazia à doutrina das missões e aldeias [...]." (³)"Irmão Gato"... Isto recorda, por certo, o que se conta sobre o fundador da Ordem a que frei Pedro de Palácios pertencia, não é mesmo?
É verdade que farinha de mandioca foi, em muitos lugares, o principal alimento nos tempos coloniais, mas alimento para pessoas, não para cães e gatos. Quem é que já viu algum bichano lambendo os beiços por farinha? Talvez só comessem se não tivessem outra coisa e, no limite da fome, tratassem de engolir a estranha ração. Mas é difícil de crer. Se fossem pratos de leite ou carne, talvez nada sobrasse de um dia para outro.
(1) Cf. THE YEAR'S ART. New York, Harry C. Jones, 1893, p. 241 Óleo de J. H. Dolph, com o título de "Friends". A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) 1695 - 1779. Sua obra, Novo Orbe Serafico Brasilico, foi escrita em 1757.
(3) JABOATÃO, Antônio de Santa Maria O.F.M. Novo Orbe Serafico Brasilico, ou Crônica dos Frades Menores da Província do Brasil, Primeira Parte, Volume II. Rio de Janeiro: Typ. Brasiliense, 1858, p.40.
(2) 1695 - 1779. Sua obra, Novo Orbe Serafico Brasilico, foi escrita em 1757.
(3) JABOATÃO, Antônio de Santa Maria O.F.M. Novo Orbe Serafico Brasilico, ou Crônica dos Frades Menores da Província do Brasil, Primeira Parte, Volume II. Rio de Janeiro: Typ. Brasiliense, 1858, p.40.
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