segunda-feira, 12 de agosto de 2024

A castidade das esmeraldas

Pedras preciosas eram desejadas por seu valor monetário e pelas propriedades terapêuticas ou mágicas que se imaginava que tivessem


No tempo em que os Diálogos das Grandezas do Brasil (¹) foram escritos - presume-se que no começo do Século XVII - espanhóis já haviam descoberto jazidas interessantes de minerais preciosos no Continente Americano. Portugueses, porém, não tinham, ainda, alcançado tal façanha, pelo menos na escala almejada. Teorias com pretensões científicas tentavam explicar por que havia tanta prata na Bolívia, mas não no Brasil, e até se faziam buscas em latitude semelhante... Em vão.
Quanto às pedras preciosas, a ansiedade por elas se explicava porque eram fáceis de transportar (e esconder), de tal modo que, nos Diálogos, Alviano afirma que muitos desejavam ter parte da fortuna pessoal em pedras, "por ser coisa que em qualquer parte, por pequena que seja, se pode esconder e salvar sem ser achada [...]" (²). O que pensaria El-Rei de tal ideia?
Na época, as pedras preciosas eram estimadas não só por seu valor monetário, mas também porque a elas se atribuíam propriedades terapêuticas, mágicas, até. Quanto à esmeralda, por exemplo, afirmava-se, segundo Brandônio, que "[...] se tem por verdadeiro que, se a pessoa que a trouxer cometer qualquer ato sensual, se quebra por si, tanto ama a castidade" (³). Brandônio, todavia, afirmava não ter muito interesse por negociar com pedras, porque podiam perder valor se alguma jazida expressiva fosse descoberta, e isso era coisa que ninguém podia prever. 

(1) Autoria atribuída, com razoável probabilidade, a Ambrósio Fernandes Brandão.
(2) BRANDÃO, Ambrósio Fernandes. Diálogos das Grandezas do Brasil. Brasília: Edições do Senado Federal, 2010, p. 51.
(3) Ibid. 


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