quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Primeira pregação cristã no Brasil

Embora Pero Vaz de Caminha, o autor da "Carta do Achamento", não dê muitos detalhes, até onde se sabe a primeira pregação cristã em território brasileiro ocorreu no contexto da celebração da primeira missa. Ouviram-na os navegadores portugueses e, ao que parece, também indígenas, que, por não compreenderem o idioma, também não deviam fazer a menor ideia quanto ao sentido daquilo que presenciavam. "Ao domingo da Pascoela (¹) pela manhã", escreveu Caminha, "determinou o capitão (²) ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu (³), e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique (⁴), em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi por todos ouvida com muito prazer e devoção".
Depois disso é que veio aquela que se considera a primeira pregação cristã em terra do Brasil, inaugurando um costume que seria muito praticado, já que, por muito tempo, ouvir sermões foi coisa que atraía multidões às igrejas, particularmente quando o pregador era pessoa conhecida pelos dotes de oratória. Mas voltemos à pregação de frei Henrique de Coimbra, descrita por Pero Vaz de Caminha e ouvida ao som das ondas que batiam na praia:
"Acabada a missa, [...] o padre [...] subiu a uma cadeira alta, e nós todos lançados por essa areia, e pregou uma solene e proveitosa pregação da história evangélica, e no fim tratou da nossa vida e do achamento desta terra, referindo-se à cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito e fez muita devoção." 
Quanto aos indígenas, observavam tudo e, ao que parece, celebraram a seu modo, porque Pero Vaz de Caminha referiu que "enquanto assistimos à missa e ao sermão, estava na praia outra tanta gente [...] com seus arcos e setas, e andava folgando. E olhando-nos, sentaram-se, e depois de acabada a missa quando nós, sentados, atendíamos à pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar [...]". O que indígenas não sabiam é que portugueses, ao realizarem a cerimônia religiosa, estavam executando uma parte do processo de tomar posse da terra que se "achara". O choque cultural, com todas as suas consequências, estava apenas começando, embora, naquele momento, parecesse ser apenas um contato amistoso.

(1) 26 de abril de 1500.
(2) Referência a Pedro Álvares Cabral. 
(3) "Ilhéu" era o que imaginavam os navegadores quanto ao lugar a que haviam chegado, e que, por isso, estavam chamando de Ilha de Vera Cruz. Mas era o Brasil, claro. 
(4) Tratava-se de frei Henrique de Coimbra, franciscano. 


Veja também:

2 comentários:

  1. Bom dia. Uma excelente quarta-feira. Interessante matéria, não sabia. Excelente explicação.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Luiz, ótimo dia para você, também. Um abraço, com meus cumprimentos pelas fotos muito boas que tenho visto em seu blog.

      Excluir

Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.