terça-feira, 20 de outubro de 2020

O que os príncipes Dom João e Dona Carlota Joaquina vestiam quando desembarcaram no Rio de Janeiro em 1808

A chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro provocou um rebuliço. No dia do desembarque, 8 de março de 1808, a população, em massa, postou-se nas ruas por onde o cortejo deveria passar. Quem é que deixaria, por vontade própria, de presenciar tal espetáculo? Por outro lado, era conveniente que os recém-chegados tratassem de fazer boa figura diante dos leais súditos, que, eufóricos, quase não se continham de tanto entusiasmo. Talvez em poucos dias mudassem de parecer, mas isso já é outra história.
D. Carlota Joaquina,
retratada por Debret (²)
Nessa ocasião D. João ainda não era rei. Governava na condição de príncipe regente, porque D. Maria I, a rainha, fora considerada incapaz, por questão de saúde, para o exercício do cargo. De qualquer modo, cumpridas certas formalidades ainda no navio, D. João pôde, afinal, pôr os pés em terra (¹), certamente com uma sensação de alívio. De acordo com José Vieira Fazenda em Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro, "[...] trajava casaca comprida, de gola muito alta, colete branco bordado, calções de cetim, botas curtas, dragonas, e levava à cabeça enorme chapéu armado, ornado de arminho, e grande espadagão pendente de cordões de fios de ouro, com as competentes borlas". Não era grande coisa, em comparação ao que se via nas cortes europeias anteriores à Revolução Francesa. Mas, para o povo do Rio de Janeiro, não acostumado a tanto brilho, ostentava uma aparência quase mágica.
Por outro lado, sua nobre consorte não parecia nada satisfeita. Que surpresa! Nas palavras de Vieira Fazenda, Carlota Joaquina estava "vivamente contrariada". Prossegue o mesmo autor: "Contou-nos testemunha ocular, que a viu passar na Rua do Rosário, que ia ela vestida simplesmente de preto, cabelos cortados e não empoados (³), sem joia alguma e sem mais ornato"
D. Maria I, que, afinal de contas, ainda era a rainha, somente desembarcou, ou melhor, foi desembarcada, no dia seguinte, com muita discrição.

(1) D. João já estivera na Bahia, depois de viagem atribulada para cruzar o Atlântico.
(2) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 3. Paris: Firmin Didot Frères, 1839. O original pertence à Brasiliana USP. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(3) Contrariando, portanto, a moda da época. Pensem, leitores no trajar das ilustres damas que, entre 1814 e 1815, lotavam os salões de baile durante o Congresso de Viena.


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