Vistas como um símbolo de progresso, as primeiras ferrovias também despertavam medo
A implantação de ferrovias introduziu um novo pavor entre a população das áreas cortadas pelos trilhos: era a possibilidade de que alguém, ao atravessá-los, não tivesse a rapidez suficiente, ou mesmo que ficasse com os pés presos entre os dormentes e, não conseguindo sair a tempo, acabasse estraçalhado por uma locomotiva. E olhem, leitores, que aqueles eram tempos em que as pequenas composições circulavam a alucinantes trinta ou quarenta quilômetros por hora!
Vou compartilhar com vocês uma história - real, ao que parece - que teria acontecido na primeira década do Século XX, ou talvez no começo da segunda. Eu a ouvi, há bastante tempo, de uma velhinha, que me falava de suas memórias de infância.
Foi em uma pequena cidade do interior de São Paulo. Havia lá um professor que dava aulas aos meninos que frequentavam a escola primária, e que era verdadeiramente odiado. Entende-se, porque aqueles eram tempos em que bolos de palmatória ou uns bons cascudos eram vistos como excelente recurso pedagógico, e nem mesmo os pais se importavam muito se os filhos voltavam para casa choramingando por algum castigo excessivo. Era até provável que uma reclamação resultasse em mais alguns tabefes.
Pois bem, o tal professor (Borges era seu nome), quando ia para a escola, precisava atravessar os trilhos da ferrovia, daí resultando que, entre os meninos, não era raro ouvir algum dizendo: "Lá vem o Borges, mas um dia desses o trem ainda pega esse maldito professor, e aí é que nós vamos ver!"
Leitores, sem mais delongas e cerimônias, registro aqui o que me dizia a velhinha contadora de histórias - não é que certo dia o desejo dos alunos acabou por virar realidade?
É óbvio que havia risco, e ainda há, em atravessar os trilhos de uma ferrovia, e atender às leis de trânsito é vital para a segurança. Os administradores das antigas ferrovias sabiam disso, e recorriam a um instrumento que costuma ser bastante eficaz para garantir boa conduta, ou seja, estipulavam uma multa para os desobedientes. Vejam só esta placa, que pertenceu à Companhia Mogiana de Estradas de Ferro:
Para os padrões da época, a quantia de cinco mil réis era um "dinheirão". Tenho, porém, curiosidade em saber como seria possível notificar eventuais infratores e fazer a cobrança...
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