sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Como eram despachados os diamantes que iam para Portugal

Comboio de diamantes passando por Caeté, de acordo com M. Rugendas (¹)

Desde a descoberta de jazidas de diamantes no Brasil (no atual Estado de Minas Gerais), o Distrito Diamantino foi administrado com grande severidade. Durante algum tempo o governo português fez concessão do direito de exploração a particulares, porém mais tarde passou a administrar a área diretamente. O sistema de controle estrito durou décadas, cabendo ao Intendente, governante máximo naquele território, uma autoridade absoluta, desde que enquadrada nos regulamentos estipulados no famoso "Livro da Capa Verde", nome algo folclórico dado pelo povo ao Regimento Diamantino.
Em linhas gerais, pode-se dizer que a administração direita pela Coroa foi um grande fracasso. Os métodos empregados na extração de diamantes eram arcaicos e, malgrado a vigilância que se alardeava onipresente, o contrabando atingia níveis altíssimos. Quem saberá dizer quanto diamante do Brasil terá chegado às casas especializadas na Europa, sem que deles a Coroa tivesse qualquer conhecimento?
No entanto, a burocracia campeava. Os diamantes oficialmente extraídos, quando de seu envio ao Reino, passavam por registro escrupuloso, conforme explicou Joaquim Felício dos Santos em suas Memórias do Distrito Diamantino:
"As partidas de diamantes extraídos eram remetidas para Lisboa pelo Rio de Janeiro em cofres fechados e lacrados na presença do intendente; de cada remessa se lavrava um termo no livro competente, destinado para esse fim. Deste termo se tiravam três cópias: uma que se remetia aos diretores, outra ao inspetor-geral do erário e outra que ficava em poder dos caixas para sua descarga." (²)
Devidamente escoltados por guarda numerosa, os diamantes saíam das Minas e eram levados ao Rio de Janeiro, de onde davam adeus à terra de origem. Pela administração equivocada, tamanha riqueza não fazia a prosperidade nem do Reino e nem do Brasil Colonial.

(1) RUGENDAS, Moritz. Malerische Reise in Brasilien. Paris: Engelmann, 1835. O original pertence à Biblioteca Nacional; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) SANTOS, Joaquim Felício dos. Memórias do Distrito Diamantino da Comarca do Serro Frio. Rio de Janeiro: Typographia Americana, 1868, p. 173.


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