Muitos mineradores, e mesmo simples faiscadores de ouro do Século XVIII achavam que a cobrança dos "reais quintos" não passava de exploração. Afinal, eram eles que arrancavam o ouro da terra, à sua custa e à custa do suor de seus escravos, e ainda tinham que pagar um imposto extorsivo? A ideia de que o rei era "senhor natural" do território que governava e que, por sua muita bondade, fazia aos súditos a concessão para que explorassem o ouro não era nada popular no Brasil, e continuou a desfrutar de idêntica antipatia no Século XIX, mesmo com a distinta presença da Corte no Rio de Janeiro.
Em consequência, o contrabando de ouro e diamantes era enorme. A criatividade dos contrabandistas não conhecia limites. O barão de Eschwege (²) descreveu, em Pluto Brasiliensis, algumas das "técnicas" de contrabando, em particular quando era necessário passar por algum registro, que era um ponto de controle de carga e bagagem entre uma capitania e outra:
Em consequência, o contrabando de ouro e diamantes era enorme. A criatividade dos contrabandistas não conhecia limites. O barão de Eschwege (²) descreveu, em Pluto Brasiliensis, algumas das "técnicas" de contrabando, em particular quando era necessário passar por algum registro, que era um ponto de controle de carga e bagagem entre uma capitania e outra:
"A fim de passar a salvo, usa de toda espécie de espertezas, já bastante conhecidas: caixas com fundo falso, sacos de couro cozidos nas almofadas das cangalhas, esconderijos de madeira nas canastras e fardos de algodão, apesar de estes poderem ser revistados por meio de uma agulha de ferro, que se atravessa em todas as direções. Um deles, quando conduzia uma boiada, teve a ideia de atar saquinhos com ouro na cauda de bois mansos.Eschwege escrevia sobre o que tinha visto, mas devia, também, ter ouvido muitas histórias. É impossível que houvesse presenciado tudo isso porque, afinal, viera ao Brasil a convite do governo joanino. Não era um funcionário público, mas não era, também, alguém em quem contrabandistas iriam facilmente confiar. Fica, porém, uma questão: se as artimanhas dos contrabandistas eram fartamente conhecidas, por que ainda eram usadas? Pode-se imaginar perfeitamente quanta corrupção acontecia nos registros, sem falar no aborrecimento dos funcionários que, dia a dia, precisavam fiscalizar cada caravana, cada tropa de mulas, cada grupo de viajantes que passava, monotonamente, no passo preguiçoso ou cansado de homens e animais. Como regra, não deviam achar razoável que as filas de verificação se tornassem demasiadamente longas.
Os diamantes eram também escondidos nas bengalas e nos cabos ocos dos chicotes, na coronha das espingardas ou das pistolas, no próprio cano das mesmas, ou no salto das botas." (³)
(1) SPIX, Johann B. von et MARTIUS, Carl F. P. von. Atlas zur Reise in Brasilien. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) Wilhelm Ludwig von Eschwege (1777 - 1855), especialista em minas, esteve no Brasil a convite do governo joanino, que pretendia reanimar a extração de minerais preciosos no país.
(3) ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Pluto Brasiliensis, trad. Domício de Figueiredo Murta. Brasília: Senado Federal, 2011, p. 525.
(2) Wilhelm Ludwig von Eschwege (1777 - 1855), especialista em minas, esteve no Brasil a convite do governo joanino, que pretendia reanimar a extração de minerais preciosos no país.
(3) ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Pluto Brasiliensis, trad. Domício de Figueiredo Murta. Brasília: Senado Federal, 2011, p. 525.
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