quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Brincadeiras do Reino para os meninos indígenas do Brasil

Na catequese de indígenas no Brasil Colonial, missionários jesuítas davam preferência às crianças, por julgarem que eram mais receptivas àquilo que se pretendia ensinar (¹). Nas aldeias controladas por padres da Companhia de Jesus, os meninos iam à escola, as meninas iam à doutrina (²), como parte da rotina diária a que se pretendia acostumá-los. Muita importância era dada, também, às grandes celebrações do calendário litúrgico, na expectativa de que indígenas adultos, que amavam as ocasiões festivas, também se interessassem pela religião. 
Ora, quem é que não sabe que crianças gostam de brincar? Também disso os padres não descuidavam, procurando, tanto quanto possível, afastá-las dos folguedos que pudessem atraí-las ao estilo de vida tradicional de sua comunidade de origem. A prova disso está em uma carta destinada aos irmãos de Ordem em Portugal, com data de 11 de setembro de 1560, e escrita pelo padre Rui Pereira, missionário jesuíta em uma aldeia indígena na Bahia:
"Para que mais se esqueçam de seus costumes e modos de folgar, ensinamos-lhes jogos que usam lá os meninos no Reino, tomamos também e folgamos tanto com eles, que parece que toda a sua vida se criaram nisso, desde que essa nova criação que cá se começa está tão aparelhada para nela se imprimir tudo o que quisermos [...]." (³) 
Não é possível deduzir, apenas por esse documento, que os jogos infantis portugueses fossem, de hábito, empregados intencionalmente em outras aldeias sob o controle de jesuítas, para aculturação dos pequenos catecúmenos. Observe-se, contudo, a jovialidade dos missionários, embora seja de se lamentar que o padre Rui Pereira, na carta citada, não tenha feito menção de quais eram os jogos dos meninos do Reino que costumavam ensinar. Teriam eles, de alguma forma, sobrevivido, através dos séculos, nas brincadeiras infantis tradicionais no Brasil?

(1) Ainda que, não poucas vezes, tenham se decepcionado com seus catecúmenos que, chegando à adolescência, decidiam voltar ao modo de vida de seus pais.
(2) Aprendizado da religião católica.  
(3) Cf. LISBOA, Balthazar da Silva. Anais do Rio de Janeiro, tomo VI. Rio de Janeiro: Seignot-Plancher, 1835, p. 152.


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