Cavalos eram imprescindíveis no Século XVIII, quer como meio de transporte nas cidades e vilas, quer como auxiliares no trabalho agrícola. E, se era assim na vida rotineira da época, não haveria razão para que coisa diferente acontecesse nas minas que, em consequência da procura insaciável por ouro, faziam nascer povoações muito populosas em um piscar de olhos.
Contudo, cavalos não são nativos da América, e, portanto, não era possível sair simplesmente a capturá-los em meio à mataria das Gerais. Era preciso trazê-los de longe - do Nordeste açucareiro, de São Paulo, do Rio de Janeiro, ou até de pontos ainda mais distantes - e os animais que resistiam aos meses de viagem, às doenças e à má alimentação eram vendidos por preços tão altos que fariam os Andes e o Himalaia parecerem insignificantes.
Na célebre obra de Antonil (¹), Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas, publicada em 1711, encontra-se esta afirmação, relativa aos preços dos cavalos:
"Por um cavalo sendeiro, cem oitavas.
Por um cavalo andador, duas libras de ouro." (²)
Sim, os pagamentos se faziam em ouro, porque este havia em abundância, enquanto quase tudo o mais escasseava.
Vejamos, leitores, em que esses preços resultavam. Uma oitava corresponde a 3,58 gramas; portanto, um cavalo sendeiro sairia a 358 gramas. Uma libra corresponde a 0,453 gramas, o que nos leva à conclusão de que um cavalo andador custaria nada menos que 0,906 gramas de ouro. Uma simples verificação da cotação do ouro permitirá alguma referência quanto ao preço desses animais.
Os lucros mirabolantes obtidos pelos que faziam comércio nas Minas cooperou, de acordo com André João Antonil, não só para a decadência das regiões açucareiras, como para a elevação geral dos preços no Brasil: "E estes preços tão altos, e tão correntes nas Minas", escreveu ele, "foram causa de subirem tanto os preços de todas as coisas, como se experimenta nos portos das cidades e vilas do Brasil, e de ficarem desfavorecidos muitos engenhos de açúcar das peças necessárias, e de padecerem os moradores grande carestia de mantimentos, por se levarem quase todos, aonde vendidos hão de dar maior lucro" (³). Cabe apenas dizer que as "peças" a que Antonil fez referência eram os escravos, mão de obra nos engenhos coloniais e nas minas. Os preços deles, também, se elevaram, e muito.
(1) Entende-se que André João Antonil foi pseudônimo adotado pelo jesuíta italiano Giovanni Antonio Andreoni para a publicação de Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas.
(2) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas. Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1711, p. 142.
(3) Ibid., pp. 142 e 143.
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