domingo, 10 de abril de 2011

Quanto vale um gato? Felinos vendidos a peso de ouro nas minas de Mato Grosso

Quanto vale um gato? A resposta depende, é claro, do grau de apreço que alguém possa ter pelos bichanos. Ninguém sabe, com exatidão, quando foram feitas as primeiras tentativas de domesticar esses felinos, mas ao menos conhecemos o fato de que, no Antigo Egito, os gatos eram não apenas apreciados mas até cultuados como divindades...
O caso de hoje é, porém, de um tempo bem mais recente.
Felinos nativos do Brasil não são animais domésticos, é claro (não passa pela cabeça de ninguém ter uma jaguatirica de estimação para capturar camundongos). Por isso, se queriam ter hábeis rateiros, os colonizadores portugueses precisavam trazer gatos da Europa. Tratando do estabelecimento de povoações em Mato Grosso, na época áurea da mineração, o Padre Ayres de Casal relata:
Simpático gatinho aguardando adoção (²)
"Por estes tempos florescia aqui um novo ramo de comércio, melhor dissera ridículo modo de ganhar dinheiro ou de ajuntar ouro, não menos notável pelo seu objeto, que eram os gatos, como pela ganância, que dava tanto ao vendedor, como ao comprador. O primeiro casal destes animais que aqui apareceu, comprou-se por uma libra de ouro; a sua descendência vendeu-se a trinta oitavas do mesmo metal; depois a vinte; donde foi diminuindo em preço proporcionalmente com o número da sua multiplicação, até chegar ao comum dos lugares, onde abundam. As casas, as colheitas do milho e de outros alimentos fizeram multiplicar tão extraordinariamente os ratos, que davam que fazer à gente para obviar os estragos deste flagelo doméstico e rural. Foram eles os que davam tão grande valor aos seus inimigos." (¹)
Pois bem, leitor, é hora de fazer umas contas. Como se sabe, uma libra equivale a aproximadamente 459 gramas. Isso significa que, se acreditarmos no relato do Padre Aires de Casal, teremos que admitir que o primeiro casal de gatos que chegou a Mato Grosso foi vendido por quase meio quilo de ouro! Sim, em vigor a lei da oferta e da procura (muito ouro e pouco gato no mercado), em dias de uma suposta inesgotabilidade do metal precioso, mas ainda assim talvez o bom padre tenha exagerado, ou crido, em plena boa fé, em algum "depoimento" que lhe chegou aos ouvidos. Seja como for, o que fica dessa história é o fato de que os gatos eram muito necessários e, nesse caso, podiam ser vendidos por alto preço. Como foram prolíficos, hoje em dia estão por toda parte e, excetuando-se exemplares das raças mais raras, ninguém em geral paga muito por eles. Já não valem seu peso em ouro.

(1) AYRES DE CASAL, Manuel.  Corografia Brasílica.
(2) Na data da foto, esse gatinho estava disponível para adoção em uma entidade de proteção aos animais. Se você não tem um animalzinho de estimação, mas gostaria de ter, considere a possibilidade de adotar um.


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