Todo estudante lê muita coisa apenas para cumprir exigências acadêmicas. Não foi diferente comigo, aposto que também foi assim com você. Reler uma obra importante, sem nenhuma obrigação de fazê-lo, já é outra coisa. Um dia desses topei com este delicioso trechinho de Raul Pompeia em O Ateneu:
"A seu turno a gramática abria-se como um cofre de confeitos pela Páscoa.
Cetim cor de céu e açúcar. Eu escolhia a bel-prazer os adjetivos, como amêndoas adocicadas pelas circunstâncias adverbiais da mais agradável variedade; os amáveis substantivos! voavam-me à roda, próprios e apelativos, como criaturinhas de alfenim alado; a etimologia, a sintaxe, a prosódia, a ortografia, quatro graus de doçura da mesma gustação. Quando muito, as exceções e os verbos irregulares desgostavam-me a principio; como esses feios confeitos crespos de chocolate: levados à boca saborosíssimos."
Ora, bem, então ocorreu-me que seria bom cumprimentar meus leitores e assinantes com essa inusitada associação entre os doces da páscoa e a gramática...
Portanto, desejo a você - leitor, assinante, seguidor - uma feliz páscoa, com ou sem gramática, mas com muito doce, especialmente chocolate. Afinal, já, já, vem a segunda-feira e, nesses dias do capitalismo, as celebrações terminam no domingo mesmo, ao contrário de antigos tempos, em que seguiam semana adentro.
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