quinta-feira, 14 de abril de 2011

Por que não houve uma Guerra de Secessão no Brasil

Quando se compara a abolição do trabalho escravo nos Estados Unidos e no Brasil, é frequente a interrogação: Por que não tivemos no Brasil uma guerra como a Guerra da Secessão? Há uma lista enorme de razões para isso, mas quero citar aqui apenas algumas delas, que me parecem ter maior relevância, sempre tendo em conta que o parâmetro para a comparação é o panorama nos Estados Unidos exatamente antes do início da Guerra Civil:
1) Embora disparidades regionais existissem no Brasil, não havia uma clara disputa envolvendo eventuais diferenças de interesses no que se refere à escravidão (ao contrário, principalmente após 1850 - o ano da abolição formal do tráfico de africanos - a região Nordeste, sempre muito relacionada à produção açucareira, bem como as regiões mineradoras, tornaram-se importantes fornecedoras de mão de obra escrava para as regiões cafeeiras);
2) Não havia no Brasil uma elite regional fortemente identificada com a carreira militar, ao contrário do que ocorria no Sul dos Estados Unidos;
3) A iniciativa por substituir o trabalho escravo por mão-de-obra livre partiu, em muitos casos, dos próprios cafeicultores;
4) O segmento de cafeicultores que insistia no escravismo era aquele integrado por fazendeiros empobrecidos, cuja única riqueza era o plantel de escravos e que, portanto, não tinha grande força política e muito menos militar para uma eventual contestação armada às medidas abolicionistas;
5) Não havia uma clara oposição entre campo versus cidade - a maior parte do Brasil do século XIX era essencialmente rural;
6) A abolição do trabalho escravo foi (exageradamente) gradual, o que deu tempo mais que suficiente aos fazendeiros escravocratas para a busca de alternativas ao trabalho compulsório;
7) Não havia grandes disputas quanto aos "melhoramentos internos", como ocorria nos Estados Unidos, já que quase todas as benfeitorias eram destinadas às regiões cafeeiras, assumindo-se que o Brasil era mesmo dependente das exportações de café e precisava investir nisso;
8) No Brasil, as Forças Armadas tiveram, politicamente, um papel secundário, até à chamada Guerra do Paraguai, e só depois disso é que uma parte expressiva da oficialidade veio a assumir-se claramente republicana e abolicionista;
9) Levando em conta tudo o que já foi dito, conclui-se que, no Brasil, a abolição foi conduzida segundo os interesses da elite escravista, malgrado pressões internacionais, da imprensa nacional e de incipientes segmentos intelectualizados com uma visão mais progressista da sociedade;
10) Finalmente, resta dizer que, segundo meu ponto de vista, ainda que o Brasil não houvesse adotado nunca qualquer medida abolicionista, a escravidão teria de acabar, ou seja, acabaria acabando... Tenho fortes razões para pensar assim, mas é uma ideia que pretendo defender em outra ocasião.


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2 comentários:

  1. E ainda haviam os escravos que, mesmo após a abolição, preferiam continuar vivendo nas fazendas

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    1. Sim, porque era muito difícil que ex-escravos conseguissem trabalho nas cidades. De fato, nem todos conseguiam e, por isso, voltavam a trabalhar em fazendas.

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