domingo, 3 de fevereiro de 2013

Como se transportavam cavalos nas monções cuiabanas

Quem quer que imagine as monções como agradáveis viagens pelo Tietê e outros rios, até chegar às minas de Cuiabá, estará, por certo, tendo uma alucinação. As monções eram, via de regra, viagens terríveis, nas quais se enfrentavam chuva e sol, nuvens de mosquitos implacáveis, carrapatos infernais, formigas e aranhas que caíam das árvores sobre as embarcações, cento e tantas cachoeiras e corredeiras, falta de água potável, escassez de alimentos. Morria muita gente no percurso, fosse pelas doenças tropicais, por afogamento ou em luta com os indígenas. Aliás, mesmo que uma expedição tivesse o raríssimo privilégio de não ser atacada por paiaguás e guaicurus, era pouco provável que todos os que partiam de Araraitaguaba, cheios de esperanças de enriquecimento rápido, chegassem vivos e saudáveis a Cuiabá. A viagem transformava até mesmo tipos atléticos em pouco mais que farrapos humanos.
Além disso, quero mencionar aqui um aspecto pouco recordado das monções cuiabanas: não eram apenas humanos que viajavam... 
Porcos e galinhas eram, rotineiramente, embarcados vivos, mas para estes o destino final não era Cuiabá - serviriam de alimento pelo caminho. Alguns cachorros eram também levados para que ajudassem nas caçadas que se faziam ao final de cada dia, visando a melhorar as condições de alimentação dos viajantes. Compreende-se que o transtorno para transportar um animal nas canoas e batelões monçoeiros era diretamente proporcional ao tamanho - do animal, por suposto. A "dor de cabeça" máxima era, portanto, levar um cavalo, acomodado sabe-se lá como, e fazê-lo chegar ao término da viagem em boas condições. Por isso, ter um cavalo em Cuiabá era indício de riqueza, como se deduz deste registro que aparece na Nobiliarchia Paulistana, de Pedro Taques de Almeida Paes Leme (séc. XVIII), relativo a Antônio de Almeida Lara:
"O seu tratamento foi sempre igual à sua distinta qualidade, porque em tempo que para ir ao Cuiabá um cavalo se conduzia embarcado em canoa, desde o porto de Araraitaguaba até as minas, e por isso se reputavam por preços exorbitantes, Antônio de Almeida os possuía muito bons."
Conforme veremos na próxima postagem, foi muito útil a Antônio de Almeida Lara ter cavalos, ou melhor, ter um, em particular.


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