quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O lugar ideal para uma universidade no Brasil

Ao contrário das colônias espanholas na América, que cedo tiveram suas respectivas universidades, o Brasil, colônia portuguesa, não teve nenhuma, não apenas antes da Independência, mas mesmo em todo o Império, ainda que cursos superiores hajam sido criados a partir da chegada de D. João e toda a Família Real lusitana ao Brasil, em 1808.
Todavia, desde esses tempos que antecederam a emancipação política já se discutia a conveniência da implantação de uma universidade em solo brasileiro. Quem queria, de fato, estudar, precisava deslocar-se até alguma das universidades europeias, o que já reduzia bastante o número de candidatos, fosse pela distância ou, principalmente, pelos altos custos que deviam ser assumidos.
Onde, porém estabelecer uma universidade, em território tão vasto, de modo a contentar os potenciais estudantes, sem ferir sensibilidades políticas regionais?
Os inconfidentes de Minas tinham sugerido que Ouro Preto era um ótimo lugar; o Rio de Janeiro parecia, por outro lado, uma escolha natural, já que era a capital do Brasil e, naquele momento, hospedava D. João VI e todo o seu séquito, além de ser uma cidade populosa - para os padrões da época, claro.
O Padre Ayres de Casal tinha, porém, outras ideias. Para ele, São Paulo era a cidade ideal para a implantação de uma universidade.
Por quê?
Era a cidade mais populosa do Brasil?
Não.
Era de fácil acesso?
Também não.
Era a mais rica, economicamente falando?
Ainda não.
Escreveu ele, em sua Corografia Brasílica:
"A salubridade e temperamento do clima, a abundância e barateza dos víveres, fazem julgar que se lhe dará preferência para a premeditada fundação da Universidade, que lhe dará crescimento, lustre, comércio e celebridade." (¹)
E acrescentou, mostrando preocupação com a saúde não só dos futuros estudantes, como também dos livros:
"Os corpos têm aqui mais vigor para a aplicação, e os insetos danificam menos as bibliotecas." (²)
A tal universidade, no entanto, ficou apenas nos planos. Levaria ainda muito tempo para que as primeiras universidades, dignas, de fato, de serem assim denominadas, se concretizassem.

(1) CASAL, Manuel Ayres de. Corografia Brasílica, vol. 1. Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1817, p. 236.
(2) Ibid.


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