quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Cajus e cajueiros - Parte 3

O cajueiro e seus usos, por indígenas e colonizadores


"Quando for por meio-dia, esperar-me-ás na fonte do Gravatá, mais para cima, onde estão os cajueiros."
José de Alencar, As Minas de Prata
 
"É o caju ou cajueiro", escreveu o Padre Simão de Vasconcelos, "a mais aprazível e graciosa de todas as árvores da América, e porventura de todas as de Europa. É muito para ver a pompa desta árvore, quando nos meses de julho e agosto se vai revestindo do verde fino de suas folhas, nos de setembro, outubro e novembro, do branco sobrosado de suas flores, e nos de dezembro, janeiro e fevereiro, das joias pendentes de seus frutos." (¹)

Cajueiro (²)

Engana-se, porém, quem imaginar que apenas a fruta e a castanha (³) tinham uso: o mesmo autor relatou que, em seus dias, da casca se extraía tinta, a madeira era empregada na construção naval e, para os índios, a resina usava-se como medicamento.
Não paravam aí, todavia, os usos do caju, pelo menos para os povos nativos do Brasil: "Têm-se por felizes aqueles cujos distritos abundam destas árvores, e sobre eles armam suas maiores guerras. Do bagaço seco ao sol e depois pisado, fazem a mais mimosa farinha que pode servir a seu regalo, merecedora de ser guardada em cabaços para seus maiores banquetes." (⁴)
Finalmente, como arremate sobre as aplicações de cajus e cajueiros, relatou o mesmo religioso que tal era a importância que os índios atribuíam à fruta, que a empregavam em sua estrutura de percepção e contagem do tempo (pelo menos assim o entendia Simão de Vasconcelos):
"Por esta fruta contam os naturais da terra seus anos: o mesmo é dizer tantos anos, que tantos cajus, como se dos cajus dependesse a boa fortuna de seus anos; e, na verdade, parte é da felicidade natural desta gente." (⁵)
Resta abordar, porém, um outro uso do caju, talvez o mais valorizado pelos índios, talvez aquele que mais entusiasmasse o Padre Simão de Vasconcelos. Isso se verá na próxima postagem, a última desta série.

(1) VASCONCELOS, Pe. Simão de. Notícias Curiosas e Necessárias das Cousas do Brasil. Lisboa: Oficina de Ioam da Costa, 1668, pp. 258 e 259.
(2) PISO/PIES, Willen et MARKGRAF, Georg. Historia Naturalis Brasiliae. Amsterdam: Ioannes de Laet, 1648. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(3) Veja, sobre a questão de ser o caju um pseudofruto, o que se explica na postagem "Cajus e cajueiros - Parte 1".
(4) VASCONCELOS, Pe. Simão de. Op. cit.,  p. 262.
(5) Ibid.


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