quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Cajus e cajueiros - Parte 1

Caju, um pseudofruto muito apreciado por povos indígenas do Brasil


Partindo do pressuposto de que a maioria de meus leitores sabem o que é um caju, vamos começar esta postagem com um esclarecimento: tecnicamente, a parte carnosa (amarela ou avermelhada) do caju não é de fato um fruto, e sim um pseudofruto, resultante do desenvolvimento do pedúnculo floral. A castanha, sim, é o verdadeiro fruto, por mais estranho que pareça. Por essa razão, nesta postagem e na próxima, o caju será designado como "fruta", para evitar qualquer mal-entendido. Agora, pois, de volta à História!
Dentre as frutas existentes no Brasil, o caju era muitíssimo apreciado pelos povos indígenas, e seu singular aspecto chamou a atenção também dos colonizadores portugueses. Quem souber que o consumo do caju deve vir acompanhado de alguns cuidados, achará a descrição feita por Pero de Magalhães Gândavo, ainda no século XVI, até um tanto engraçada:
O caju, que os indígenas tanto apreciavam (³)
"Outra fruta se cria numas árvores grandes, estas se não plantam, nascem pelo mato muitas; esta fruta depois de madura é muito amarela: [...] chamam-lhes cajus, têm muito sumo, e cria-se na ponta desta fruta de fora um caroço como castanha, e nasce diante da mesma fruta, o qual tem a casca mais amargosa que fel, e se tocarem com ela nos beiços dura muito aquele amargor e faz empolar toda a boca; pelo contrário este caroço assado, é muito mais gostoso que amêndoa; são de sua natureza quentes em extremo." (¹)
Já o Padre Simão de Vasconcelos, escrevendo um século mais tarde, não poupou elogios à fruta, que assim retratou:
"Os pomos desta árvore parecem feitos de sobremão da natureza, quando mais curiosa. É um feito de dois, ou dois que fazem um, e ambos de diversas espécies, coisa rara no mundo. Ao primeiro chamam caju: é fruta comprida, a modo de pero verdeal, porém maior. Uns são amarelos, outros vermelhos, outros tiram a uma e outra cor. Todos são sucosos, frescos e doces, quando afezoados. Igualmente matam aos encalmados a sede, e aos necessitados a fome, a sustância interior é esponjosa, sucosa e sem caroço ou pevide alguma." (²)
A outra parte do caju é, evidentemente, a castanha, da qual trataremos na próxima postagem.

(1) GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil. Brasília: Ed. Senado Federal, 2008, p. 63.
(2) VASCONCELOS, Pe. Simão de. Notícias Curiosas e Necessárias das Cousas do Brasil. Lisboa: Oficina de Ioam da Costa, 1668, pp. 260 e 261.
(3) O original pertence à Biblioteca Nacional. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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