quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Por que Júlio César foi assassinado

Júlio César (⁴)
Dia 15 de março de 44 a.C., os "idos de março", para os antigos romanos. Nesse dia, por volta das onze da manhã (¹), Júlio César foi assassinado. Fora avisado pelos áugures de que havia grave ameaça sobre ele, mas, supersticioso como era, ainda assim desprezou a advertência e, ao se apresentar para um compromisso público, foi morto com múltiplas punhaladas. Eram mais de sessenta os conspiradores (²). Por quê?
De acordo com De vita Caesarum, de Suetônio, o pretexto formal é que havia quem pretendesse dar a César o título de rei, sob o argumento de que nos livros sibilinos haveria uma profecia segundo a qual Roma somente conquistaria a Pártia se fosse governada por um rei. Ora, o povo romano tinha a mais ferrenha aversão à monarquia, desde que o último dos sete reis, Tarquínio, chamado "o soberbo" fora deposto. Mas, com profecias sibilinas ou sem elas, é fato que César flertava com a monarquia, ainda que afirmasse jamais aceitar uma coroa. Seu comportamento, àquela altura, mais parecia o de um rei que de um governante republicano. Não era, já, ditador vitalício?
O apoio popular, que Júlio César tão zelosamente cultivara, era instável. A plebe estava sempre ao seu lado, "sempre" significando, aqui, quando fazia distribuições de víveres e de dinheiro (³). Quanto ao patriciado, irritara-se com a decisão de César de introduzir gauleses no Senado. O ditador tinha, pois, inimigos à direita e à esquerda.
Seriam essas explicações suficientes para um assassinato público? Sêneca, que viveu no século seguinte - era filósofo estoico e foi professor de Nero - interpretou a morte de César sob outro olhar: "O divino Júlio", disse ele, "foi morto com a participação antes de amigos que de inimigos, por não ter concretizado suas pretensões ilimitadas" (⁵). Suas palavras sugerem uma reflexão útil aos poderosos de todos os tempos.

(1) À hora quinta. A correspondência com o sistema atual de vinte e quatro horas varia um pouco, de acordo com a época do ano.
(2) Suetônio, em De vita Caesarum, apontou Caio Cássio, Marco e Décimo Bruto como os líderes do complô.
(3) Sim, leitores, isso acontecia.
(4) HEKLER, Anton. Die Bildniskunst der Griechen und Römer. Stuttgart: Julius Hoffmann, 1912, p. 156. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(5) SÊNECA. De iraO trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias


2 comentários:

  1. Talvez quisesse planar, majestoso, com Roma a seus pés, mas era apenas um homem entre homens.

    Tenha um excelente ano, Marta! :)

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    1. Assim César, assim muitos outros.

      Que seu 2020 seja maravilhoso!

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