Eram passados noventa anos desde a proibição de fábricas e manufaturas no Brasil por D. Maria I, e sessenta e sete desde que D. João assinara um decreto permitindo as ditas fábricas e manufaturas. O Brasil deixara de ser colônia, passara a Reino Unido com Portugal e Algarves e, em 1822, chegara a ser nação independente. Como andavam, em 1875, as fábricas na Província de São Paulo?
Em conformidade com Joaquim Floriano de Godoy, senador do Império, a situação era esta:
"Há [fábricas] de cerveja; de dourar; de encadernar; de bilhares; de chá; de chapéus de seda, castor e lebre (²); de chocolate (³); de licores; de livros em branco; de seges e carros (⁴); de móveis; de selins e outros arreios; de tabaco; de vinagres; de vinhos; de fogos; fundição de ferro e bronze; de funileiros e latoeiros; de relógios; e muitas outras que longo seria enumerar. Há boas litografias e tipografias. Há serrarias a vapor. Há grande fábrica de tecidos de algodão." (⁵)
Um ponto positivo nessa lista é a diversificação; note-se, ainda, que em alguns ramos era evidente a necessidade de concorrer com artigos importados, enquanto outras atividades, ganhando contornos industriais, eram sucessoras de antigas oficinas de trabalho artesanal.
O panorama não era o de uma potência industrial. Mas revelava progresso, quando se faz uma comparação com o quadro vigente por volta da segunda ou terceira década do Século XIX. Havia necessidades locais que deviam ser atendidas, e mesmo algum espaço para pequena exportação para outras Províncias do Império. Os lucros do café, consideráveis nesse tempo, permitiam algumas aventuras promissoras para além do setor agrícola, e as atividades industriais nascentes pareciam ser um caminho natural para quem desejava ousar em algum empreendimento. O século à frente, com a inevitável crise do café, revelaria o acerto desse rumo.
"Há [fábricas] de cerveja; de dourar; de encadernar; de bilhares; de chá; de chapéus de seda, castor e lebre (²); de chocolate (³); de licores; de livros em branco; de seges e carros (⁴); de móveis; de selins e outros arreios; de tabaco; de vinagres; de vinhos; de fogos; fundição de ferro e bronze; de funileiros e latoeiros; de relógios; e muitas outras que longo seria enumerar. Há boas litografias e tipografias. Há serrarias a vapor. Há grande fábrica de tecidos de algodão." (⁵)
Um ponto positivo nessa lista é a diversificação; note-se, ainda, que em alguns ramos era evidente a necessidade de concorrer com artigos importados, enquanto outras atividades, ganhando contornos industriais, eram sucessoras de antigas oficinas de trabalho artesanal.
O panorama não era o de uma potência industrial. Mas revelava progresso, quando se faz uma comparação com o quadro vigente por volta da segunda ou terceira década do Século XIX. Havia necessidades locais que deviam ser atendidas, e mesmo algum espaço para pequena exportação para outras Províncias do Império. Os lucros do café, consideráveis nesse tempo, permitiam algumas aventuras promissoras para além do setor agrícola, e as atividades industriais nascentes pareciam ser um caminho natural para quem desejava ousar em algum empreendimento. O século à frente, com a inevitável crise do café, revelaria o acerto desse rumo.
(1) AURORA PAULISTANA, Ano I, nº 47, 5 de junho de 1852.
(2) Nada de admiração: eram as modas da época.
(3) Artigo essencial, como todo mundo sabe.
(4) Para tração animal, é claro.
(5) GODOY, Joaquim Floriano de. A Província de S. Paulo. Rio de Janeiro: Typ. do Diário do Rio de Janeiro, 1875, pp. 24 e 25.
(3) Artigo essencial, como todo mundo sabe.
(4) Para tração animal, é claro.
(5) GODOY, Joaquim Floriano de. A Província de S. Paulo. Rio de Janeiro: Typ. do Diário do Rio de Janeiro, 1875, pp. 24 e 25.
(6) CORREIO PAULISTANO, Amo XXXIV, nº 9511, 15 de maio de 1888.
Veja também:
Fiquei pensando na vida cotidiana dentro desses espaços. O texto anterior sobre ratos também gerou curiosidade sobre a existência desses roedores por fábricas como a de chocolate.
ResponderExcluirNão seria surpresa se alguns ratinhos frequentassem esses lugares: foi somente no começo do Século XX que uma conscientização maior quanto à capacidade dos murídeos em transmitir doenças começou a ocorrer no Brasil. O quotidiano de uma fábrica, nesse tempo e lugar, seguia, quase sempre, modelos pré-industriais. As décadas seguintes trariam mudanças profundas, com a chegada em massa de imigrantes e o crescimento no número de estabelecimentos industriais para atender à demanda da população urbana em expansão.
ExcluirUm novo país a assomar,
ResponderExcluirnovas oportunidades a espreitar.
E, à época, muitos sonhos por realizar.
Mas, como em todo o lado,
um imenso conservadorismo para contrariar.
Valeu a pena?
Como disse Fernando Pessoa,
"tudo vale a pena
quando a alma não é pequena".
Fique bem, Marta :)
Ah, isso é verdade. Principalmente porque havia fábrica de chocolate...
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