As mortes em massa têm levado muita gente a pensar que as guerras de hoje são muito piores que as da Antiguidade. A seu modo, porém, as guerras sempre foram ruins, e nunca deixarão de ser.
Uma das piores coisas que um exército invasor procurava fazer, se não fosse possível a vitória no combate em campo aberto, era forçar a rendição dos inimigos, que se encontravam trancafiados dentro de uma cidade murada, levando-os à completa falta de víveres. A morte vinha pela sede, se a cidade não tivesse um suprimento confiável de água, e, mais provavelmente, pelo fim do estoque de alimentos. Mais sorte tinham os que morriam por ferimentos em batalha que os que enfrentavam os horrores da morte por inanição, precedida por dias ou meses em que os sobreviventes comiam literalmente quase qualquer coisa que pudessem encontrar, tal era o desespero. De acordo com Plínio (¹), autor romano do Século I, houve um incidente durante as Guerras Púnicas que ilustra muito bem esse fato:
"Um rato foi vendido por duzentos denários quando Casilinum estava sitiada por Aníbal, e o homem que o vendeu morreu de fome, mas o comprador sobreviveu, de acordo com os anais (²)." (³)
Ratos, como se sabe, não correspondem à dieta favorita de seres humanos. Só eram devorados como último recurso, quando já não havia nada melhor à disposição. O detalhe notável é que um murídeo foi vendido por nada menos que duzentos denários - lembrem-se, leitores, de que o denário era o valor pago, habitualmente, por dia, aos trabalhadores braçais assalariados. Ora, o ratinho em questão custou o salário de nada menos que duzentos dias de trabalho. Se a história contada por Plínio corresponder à realidade, esse foi o valor que garantiu a sobrevivência do comprador. Em termos absolutos, foi um preço muito alto. Considerando o assunto, tanto sob a perspectiva do vendedor como do comprador, pergunto: valeu a pena?
Uma das piores coisas que um exército invasor procurava fazer, se não fosse possível a vitória no combate em campo aberto, era forçar a rendição dos inimigos, que se encontravam trancafiados dentro de uma cidade murada, levando-os à completa falta de víveres. A morte vinha pela sede, se a cidade não tivesse um suprimento confiável de água, e, mais provavelmente, pelo fim do estoque de alimentos. Mais sorte tinham os que morriam por ferimentos em batalha que os que enfrentavam os horrores da morte por inanição, precedida por dias ou meses em que os sobreviventes comiam literalmente quase qualquer coisa que pudessem encontrar, tal era o desespero. De acordo com Plínio (¹), autor romano do Século I, houve um incidente durante as Guerras Púnicas que ilustra muito bem esse fato:
"Um rato foi vendido por duzentos denários quando Casilinum estava sitiada por Aníbal, e o homem que o vendeu morreu de fome, mas o comprador sobreviveu, de acordo com os anais (²)." (³)
Ratos, como se sabe, não correspondem à dieta favorita de seres humanos. Só eram devorados como último recurso, quando já não havia nada melhor à disposição. O detalhe notável é que um murídeo foi vendido por nada menos que duzentos denários - lembrem-se, leitores, de que o denário era o valor pago, habitualmente, por dia, aos trabalhadores braçais assalariados. Ora, o ratinho em questão custou o salário de nada menos que duzentos dias de trabalho. Se a história contada por Plínio corresponder à realidade, esse foi o valor que garantiu a sobrevivência do comprador. Em termos absolutos, foi um preço muito alto. Considerando o assunto, tanto sob a perspectiva do vendedor como do comprador, pergunto: valeu a pena?
(1) c. 23 - 79 d.C.
(2) Anais eram registros oficiais com os acontecimentos notáveis de cada ano.
(3) PLÍNIO, o Velho. Naturalis Historia, Livro VIII. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
Veja também:
Se o comprador sobreviveu, claro que valeu a pena. E o vendedor, apesar da carestia, não resistiu ao apelo dos denários e vendeu, cavando a sua própria sepultura. Um belo exemplo da tragédia humana, não acha, Marta?
ResponderExcluirA propósito de ratos, recordo que, durante a epopeia dos descobrimentos (com alguns achamentos) portugueses, está comprovado que muitos marinheiros, perante a escassez de alimentos frescos, dedicavam-se a caçar ratos que proliferavam no porão.
Tenha um bom domingo, Marta :)
É verdade: há muitos relatos de navegadores dos Séculos XV, XVI e XVII que mostram que não só ratos, mas até o couro dos cintos e sapatos, e mesmo animais de estimação, como papagaios, eram devorados quando faltava comida nas viagens marítimas. A que custo elas se fizeram!... .
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