Cidades antigas tinham muralhas. Quando havia guerra, quem morava em povoações menores ou em áreas agrícolas menos protegidas, buscava refúgio dentro dos muros da fortaleza mais próxima. Os portões - quase sempre enormes e, por isso, muito pesados - eram fechados, de modo que, por um lado, inimigos não conseguiriam entrar facilmente, mas, por outro, quem estava do lado de dentro também não podia sair.
Começava então o cerco. Fora, o objetivo maior do exército atacante era, se possível, danificar o muro em algum ponto, de modo que soldados pudessem entrar na cidade. Com o tempo, surgiram máquinas de guerra para esse propósito - os aríetes, por exemplo. Ainda que sempre acarretasse um número elevado de baixas, outra prática era a construção de uma rampa que atingisse o alto do muro. Torres rodantes também faziam parte do cardápio. Às vezes, a captura de algum fugitivo podia resultar na revelação de segredos militares da cidade atacada. Não é preciso lembrar que, na intenção de descobrir os pontos fracos de uma localidade, a tortura era uma útil ferramenta para fazer falar quem, de outra maneira, não abriria a boca de jeito nenhum.
Enquanto isso, o exército defensor procurava manter os inimigos à distância. Chuvas de flechas caíam sobre a cabeça dos soldados que vinham lutar junto ao muro e enormes pedras eram roladas, matando vários combatentes de uma só vez. Na Idade Média, tachos de óleo fervente eram entornados do alto das torres. Ninguém, fosse homem ou mulher, jovem ou idoso, ficava isento de alguma responsabilidade na defesa, a menos que estivesse completamente incapacitado.
Uso de torre sobre rodas para ataque a uma cidade sitiada (³) |
Até quando resistir? Houve guerras em que cidades sitiadas resistiram por anos (²). Tudo dependia, basicamente, do estoque de alimentos disponível (⁴) e de um bom suprimento de água. A menos que o inimigo levantasse o cerco, a derrota dos defensores, com seu cortejo de desgraças, era apenas uma questão de tempo (⁵), tanto que, em alguns casos, houve populações inteiras que cometeram suicídio, considerando esta uma solução melhor e mais honrosa que a rendição.
Eventualmente, porém, os invasores também sofriam com epidemias e decidiam ir embora; podia ser que os suprimentos que traziam chegassem ao fim, ou que não achassem água potável; outras vezes, era algum exército estrangeiro que vinha em socorro dos sitiados. Havia, ainda, a possibilidade de discórdia entre comandantes, e mesmo a morte de um monarca, abrindo questões sucessórias, podia significar uma retirada, ao menos temporária. Quando alguma dessas coisas acontecia, não era hora para festas, ainda que celebrações religiosas, em honra dos deuses, pudessem acontecer. Era tempo, sim, para muito trabalho, reparando os muros, reforçando as torres e as portas, protegendo as fontes e poços que estavam dentro e inutilizando os que estivessem do lado de fora da cidade. A experiência ensinava que era grande a possibilidade de que, algum dia, os inimigos voltassem.
(1) Como aconteceu em Atenas, durante a Guerra do Peloponeso.
(2) Sabe-se que Siracusa, por exemplo, cercada por terra e mar pelas forças romanas durante as Guerras Púnicas, manteve a defesa por aproximadamente de dois anos.
(3) DODGE, Theodore Ayrault. A History of the Art of War Among the Romans. Boston, New York: Houghton, Mifflin & Company, 1900, p. 394.
(3) DODGE, Theodore Ayrault. A History of the Art of War Among the Romans. Boston, New York: Houghton, Mifflin & Company, 1900, p. 394.
(4) Heródoto, em Histórias, afirmou que os moradores de Babilônia não tiveram receio dos persas, quando estes cercaram a cidade, porque havia, dentro dela, um estoque considerável de alimentos. Ainda assim, a cidade foi tomada.
(5) De acordo com Políbio de Megalópolis, os antigos romanos, quando conquistavam uma cidade que resistira a seus ataques, tinham por hábito matar a todos os que encontravam, fossem homens ou animais.
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