Ilustração de um exemplar manuscrito (c. 1475 - 1525) de As Viagens de Marco Polo |
Em uma carta datada de 18 de fevereiro de 1493, cujo destinatário era Dom Gabriel Sanchez, escrivão dos "Reis Católicos", Fernando de Aragão e Isabel de Castela, Cristóvão Colombo, que há pouco havia chegado à América Central Insular com sua pequenina frota, composta por apenas três embarcações, fez a seguinte observação:"Ao contrário do que se imaginava, não encontrei aqui monstros, mas homens de grande respeito e bondosos." Mais adiante, na mesma carta, reiterou: "Não vi monstros, nem há quem deles tenha conhecimento [...]."
Parece evidente que, se foi necessário a Colombo dizer duas vezes que não havia monstros nas terras a que acabara de chegar é porque, em seu tempo, muitos criam piamente que, para além das terras já conhecidas dos europeus, quer em seu próprio continente, ou em lugares da Ásia e da África, haveria, sim, criaturas disformes, estranhas, brutalmente agressivas, monstruosas, enfim. Não que haja alguma prova de que Colombo, homem de certa instrução que era, fosse um adepto dessas tolices, mas seu relato trabalhava com a expectativa dos europeus de seu tempo. Além disso, mesmo autores eruditos do século seguinte ao da chegada de europeus à América costumavam incluir em suas obras alguma menção a seres mitológicos como se, de fato, existissem, talvez porque dessem sua existência como certa, ou, ainda, para não decepcionar os leitores.
É fato que Colombo, a essa altura dos acontecimentos, ainda pensava que havia circunavegado o globo terrestre e chegado às "Índias", Catai e Cipango (os dois últimos, China e Japão, respectivamente), terras orientais referidas por Marco Polo e que ele, Colombo, supunha ser possível alcançar e agregar às possessões da Espanha, navegando para o Ocidente. Portanto, devia esperar que, a qualquer momento, pudesse avistar as maravilhas de que falara o mercador veneziano mais de dois séculos antes. Nesse sentido, a espetacular viagem de Colombo seria uma enorme frustração. É que no caminho para Cipango e Catai havia todo um continente - a América - mas ele ainda não sabia disso.
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