quarta-feira, 1 de maio de 2024

Conservação do feijão e do milho em fazendas no Século XIX

Produzir alimentos é essencial; conservá-los, adequadamente, para que possam ser consumidos até que nova safra esteja disponível, é tão importante quanto a produção.
Em meados do Século XIX, era este o procedimento adotado em fazendas do Brasil, particularmente no Sudeste, para a conservação do feijão que fora colhido, segundo relato de Augustinho Rodrigues Cunha, em Arte da Cultura e Preparação do Café:
"[...] Em muitas fazendas costumam expor o feijão, principal alimento, ao sol todos os oito ou quinze dias, conforme o tempo tem sido mais ou menos úmido; em outras costumam misturar com cinza. [...]" (¹)
Mais ainda:
"Eu pude observar que o feijão guardado em sacos expostos à luz diáfana se conserva perfeitamente bem, e sabe-se que guardado em barricas se deteriora em muito pouco tempo, a ponto de não servir. [...]" (²)
Quanto ao milho, o mesmo autor observou:
"[...] O milho se conserva melhor quando é esbulhado e batido, do que guardado em espiga. [...]" (³)
Havia, pois, muito trabalho a fazer. Era preciso, também, todo o cuidado para que os grãos fossem estocados longe do alcance de ratos e outros animais que pudessem danificar a safra. 
No sudeste brasileiro, feijão e milho não eram importantes apenas para alimentação de famílias senhoriais ou para venda à população de áreas urbanas próximas. Eram, com alguns acréscimos, a alimentação habitual dos escravos. Milho, inclusive, era cultivado para alimentar os animais. A conservação de modo apropriado, sob contínua vigilância, era o preço que se pagava para que alimentos não viessem a faltar.

*****

Segundo uma técnica antiga muito empregada no Brasil, milho e feijão eram cultivados simultaneamente, em roças com carreiras alternadas. Isto se faz ainda hoje, em áreas de agricultura de subsistência. A foto abaixo mostra o cultivo simultâneo de milho e feijão em 1911 (⁴). 



(1) CUNHA, Augustinho Rodrigues. Arte da Cultura e Preparação do Café. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1844, p. 103.
(2) Ibid., p. 105.
(3) Ibid.
(4) OAKENFULL, J. C. Brazil in 1911. 3ª ed. London: Butler & Tanner, 1912. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. 


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