sexta-feira, 31 de maio de 2024

A estátua de Hera em Corinto

Por que havia um cuco no cetro de Hera


A história, meio fato, meio lenda, é ótima, e foi contada por Pausânias, escritor grego do Século II. Havia em Corinto (¹) uma bela estátua de Hera, feita de ouro e marfim, na qual a deusa era retratada em um trono, e que seria obra de Policleto, escultor notável do Século V a.C. Hera, naturalmente, usava uma coroa de ouro e, enquanto em uma das mãos segurava um cetro, na outra, exibia uma romã (²). 
Pois bem, Pausânias alegou nada poder dizer sobre a romã, que seria uma espécie de mistério religioso da Antiguidade, mas, a partir daí, entra o elemento lendário, porque sobre o cetro estava cravado um cuco - sim, a ave - e sobre o cuco ele tinha muito para falar. 
Zeus, senhor do Olimpo, se apaixonara por Hera quando ela era ainda uma virgem. Mas como o deus poderia se aproximar da jovenzinha? Simples, transformando-se em uma ave - um cuco - do qual ela tanto gostou que fez dele seu animalzinho de estimação. O restante, leitores, vocês podem imaginar, e segue o mesmo rumo de outras aventuras dos deuses gregos, suas estranhas metamorfoses e o que delas habitualmente resultava.
Nosso informante, Pausânias, viveu em um tempo em que já era possível contestar as façanhas dos deuses sem, por isso, correr grande risco. E foi assim que não teve escrúpulo em afirmar, ao concluir a história, que não acreditava em nada disso. Contava por contar, e nós apreciamos que assim tenha sido, porque seus escritos nos ajudam a entender melhor o tempo em que viveu e o que passava pela cabeça de seus contemporâneos.

(1) No Século II d.C., quando viveu Pausânias, Corinto já não era uma cidade de população grega, e sim uma colônia romana, apesar de conservar muitas das antigas tradições dos seus primeiros habitantes. 
(2) Cf. PAUSÂNIAS. Descrição da Grécia, Livro II. 


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