Trilhos de uma ferrovia desativada |
Contudo, essas ferrovias sofriam de um defeito sério, com graves implicações à sua utilidade: foram construídas sem um plano geral que antecedesse os trabalhos. A construção e administração de um trecho era entregue a uma companhia, muitas vezes de capital estrangeiro, enquanto outros trechos, de outras companhias, eram construídos com padrões diferentes. Era o caso, por exemplo, das bitolas entre os trilhos. Vejamos alguns exemplos:
- Estrada de Ferro Santos - Jundiaí: 1,6 m (¹);
- Companhia Paulista, ligando Jundiaí a Campinas: 1,6m (²);
- Companhia Ituana, trecho Jundiaí a Itu: 0, 96 m (³);
- Companhia Sorocabana: 1,0 m (⁴).
É fato que, em parte, as bitolas diferentes eram intencionais, já que as empresas buscavam assegurar para si o maior lucro possível, garantindo que não haveria compartilhamento da infraestrutura, mas isso apenas demonstra que, de certo modo, o governo provincial, sem dispor de recursos próprios para estabelecer linhas férreas, via-se refém das companhias interessadas em assumir determinados trechos, cuja lucratividade, no entanto, competia ao governo garantir. A questão, vê-se, era complexa. O resultado, um quebra-cabeça de trilhos diferentes, para desgosto de quem viajava ou contratava o transporte de mercadorias.
Agora, leitores, se quiserem dar um mergulho no que era uma viagem ferroviária nesses tempos, podem ouvir "O Trenzinho do Caipira" (⁵) de Heitor Villa-Lobos. Fechem os olhos e deixem a imaginação voar. Se a experiência auditiva não for suficiente, poderão, também, fazer uma breve viagem em alguma das ferrovias turísticas em que circulam velhas locomotivas a vapor restauradas, com carros igualmente antigos. Vão descobrir, neste caso, que viajar não era exatamente uma experiência confortável.
(1) Cf. PINTO, Adolpho Augusto. História da Viação Pública de São Paulo. São Paulo: Typographia e Papelaria de Vanorden & Cia., 1903, p. 40.
(2) Ibid.
(3) Ibid., p. 47.
(4) Ibid. p. 50.
(5) Bachianas Brasileiras nº 2.
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