segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Como indígenas caçavam antas

Anta (Tapirus terrestris)

Jean de Léry (*) descreveu a anta como uma vaca sem chifres, meio vaca, meio jumento. Estava certo? Questão de opinião. Léry não tinha medo das antas porque, com os indígenas, aprendeu que, a despeito dos dentes afiados, elas usavam apenas a fuga como defesa. Por isso, os tupinambás, que eram hábeis no uso do arco, matavam-nas a flechadas ou com o emprego de armadilhas. 
A razão para a caça às antas era simples: obter comida. O método de preparar carne empregado pelos tupinambás, conforme descrito por Jean de Léry, era colocar forquilhas feitas de galhos de árvore no chão, e, entre elas, bastões de madeira que funcionavam como grelhas, nas quais a carne, em pedaços, era posta a assar. Sabe-se que outros povos indígenas tinham métodos diferentes para assar a carne dos animais que caçavam. 
O couro das antas tinha uso, também. Dele se fazia uma arma defensiva, semelhante a um escudo redondo, usado para aparar flechas lançadas por inimigos durante um combate. Colonizadores observaram esse uso, decorrente da dureza de parte do couro de anta, e logo entenderam que podiam empregá-lo também, com idêntico propósito. Quanto a Léry, ele e seus companheiros, na viagem de regresso à França, ficaram sem ter o que comer, uma situação que, infelizmente, nada tinha de incomum na travessia do Atlântico durante o Século XVI, e mesmo mais tarde. Lembraram-se de cortar em pedaços os couros de anta que levavam, fervendo-os em água, na suposição de que poderiam servir para matar a fome. O resultado foi terrível. Alguém no grupo, com certo talento para culinária, resolveu mudar o modo de preparo, assando o couro na brasa. Desta vez, depois de removida a superfície que se queimara, chegou-se a um resultado satisfatório. Alegou-se, até, que parecia torresmo. O que é que a fome não faz!... 

(*) Francês, Léry veio muito jovem ao Brasil. Chegou à fracassada colônia francesa conhecida como França Antártica, e ficou menos de um ano. Voltou à França e, como calvinista que era, foi a Genebra, estudou Teologia, tornou-se pastor protestante e, mais tarde, escreveu um livro contando suas aventuras e experiências na América do Sul, que foi publicado com o título de Histoire d'un Voyage Faict en la Terre du Brésil.


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