quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Pérolas para as damas romanas

Romana desconhecida (¹)
No Século I, o comércio fervilhava com preciosidades que mercadores, por mar e por terra, faziam chegar ao coração do Império Romano. Marfim da África, tecidos finíssimos e tapeçarias do Oriente, perfumes da Arábia, atraíam a atenção da elite de Roma, que estava disposta a pagar fortunas para ostentar alguma esquisitice, enquanto a massa, boquiaberta, admirava o que via, ainda que não pudesse entrar na onda de consumo. 
Para as mulheres romanas, porém, nada se comparava às pérolas. Elas vinham de pontos remotos ao longo do Oceano Índico, onde mergulhadores, quase sempre escravos, arriscavam a vida para encontrá-las. O desejo por pérolas era tão alucinante que até mesmo a gente pobre de Roma sonhava com elas, e fazia o possível para adquiri-las - foi Plínio, o Velho, quem disse (²). E disse mais: era nas orelhas (³) que quase todas as damas romanas gostavam de ostentá-las, embora também fosse moda usá-las presas aos calçados e até em chinelos, havendo quem apreciasse pisar sobre elas (⁴). Que coisa incômoda!
Contudo, meus leitores, Plínio alegou ter sido testemunha ocular de extravagância muito maior. "Eu vi Lolia Paulina (⁵) [...]", disse ele, "não só em cerimônias solenes mas até em jantares corriqueiros, coberta de esmeraldas e pérolas, resplandecendo alternadamente sobre toda a cabeça, cabelos, orelhas, pescoço e dedos, no valor de quarenta milhões de sestércios (⁶)" (⁷). De onde vinha tudo isso? O mesmo Plínio não teve dúvida em concluir que, afinal, provinha do espólio arrancado às províncias conquistadas por Roma.  

(1) Cf. HEKLER, Anton. Die Bildniskunst der Griechen und Römer. Stuttgart: Julius Hoffmann, 1912, p. 244. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. 
(2) Cf. PLÍNIO, o Velho. Naturalis Historia, Livro IX.
(3) Ibid., Livro XI.
(4) Ibid. Livro IX.
(5) Terceira esposa do imperador Calígula.
(6) Se admitirmos o sestércio como um quarto do valor de um denário, os quarenta milhões de sestércios equivaleriam a dez milhões de denários. Sabe-se que o denário era o salário habitualmente pago por dia de trabalho de um trabalhador comum. Portanto, a senhora Lolia Paulina estaria coberta por dez milhões de dias de trabalho, nem mais e nem menos. 
(7) PLÍNIO, o Velho. Op. cit., Livro IX. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.


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