quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Altares domésticos dos astecas

Não só de sacrifícios em altares no alto das pirâmides escalonadas, com intervenção da elite sacerdotal, era feita a religião dos astecas. Essa, por certo, era mais religião de Estado que fenômeno pessoal e quotidiano. Se podemos crer nas palavras de Bernal Díaz del Castillo, soldado espanhol que participou da conquista e destruição do Império Asteca com Hernán Cortés, havia, também, práticas religiosas domésticas:
"[...] cada índio e índia tinha dois altares, um no lugar em que dormiam, outro na porta da casa, [..] cheios de ídolos (¹), alguns pequenos, outros grandes, pedras pequenas e grandes, e uns livrinhos de papel feito de casca de árvore, a que chamam amatl, e neles seus sinais do tempo e coisas passadas. [...]" (²)
Sabe-se que Bernal Díaz escreveu suas memórias da guerra contra os astecas muito tempo depois dos acontecimentos. Quanto é ele confiável? É difícil determinar, mas foi, de qualquer modo, testemunha ocular, e conviveu com os indígenas antes e depois da "conquista", e pôde, assim, fazer observações em primeira mão. É verdade que tudo passava pelo filtro de suas convicções religiosas, mas, ressalvados esses fatores, é interessante que tenha registrado como os astecas que encontrou faziam suas práticas religiosas no âmbito privado. 
Para quem hoje se interessa por estudar a cultura dos povos indígenas, resta lamentar que nem todos os livrinhos com imagens que representavam "coisas passadas" tenham sobrevivido. Os "conquistadores" tinham pressa em apagar tudo o que remetia às crenças nativas e, para isso, muitos deles não hesitavam em queimar qualquer coisa que encontravam. Em uma época em que europeus queimavam pessoas que se atreviam a pensar diferente em matéria de religião, por que não queimariam os objetos de culto dos astecas? 

(1) Esculturas ou outras representações de deuses.
(2) CASTILLO, Bernal Díaz del. Verdadera Historia de los Sucesos de la Conquista de la Nueva España. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias



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