quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A morte de Montezuma, imperador asteca

Depois de entrar na capital asteca e aprisionar o imperador Montezuma, Hernán Cortés foi informado de que um exército numeroso, sob o comando de Pânfilo de Narváez, mandado desde Cuba pelo governador Diego Velásquez, acabara de desembarcar e estava já em marcha para pôr fim a seus projetos de conquista. Entendendo que sua única chance estava em não fugir ao confronto, Cortés saiu de Tenochtitlán, deixando entre os astecas somente aqueles a quem se confiou a guarda do imperador e a vigilância sobre o riquíssimo tesouro encontrado.
A despeito da franca desvantagem numérica, os comandados de Cortés suplantaram os de Narváez. Não tiveram, porém, muito tempo para comemorações, por chegarem notícias alarmantes do México, dando conta de uma sublevação geral, em decorrência de atitudes imprudentes de Pedro de Alvarado. Retornando a toda pressa, Cortés apenas pôde compreender que, já dentro da capital, ele e seus homens é que eram agora os prisioneiros, ainda que conservassem Montezuma em seu poder. 
Seguiram-se dias de combates sangrentos. De um lado, a população do México lutava para expulsar os invasores; de outro, os espanhóis se davam conta de que dificilmente sairiam dali vivos, mas não queriam renunciar ao tesouro asteca. 
Na tentativa de serenar os ânimos, Cortés compeliu Montezuma a falar ao povo, pedindo calma. A essa altura, porém, outro membro da família real já era apontado como governante, e o imperador prisioneiro não foi recebido com satisfação. Segundo o relato de Bernal Díaz del Castillo, soldado a serviço de Cortés, em um momento de descuido dos que deviam proteger Montezuma, alguém atirou contra ele "três pedradas, uma na cabeça, outra em um braço e outra em uma perna, e posto que lhe pedissem que se curasse e comesse, dizendo-lhe palavras amáveis, não quis [...]".(*) 
O que havia acontecido àquele que fora tratado como um deus, e a quem seus súditos chamavam "senhor, meu senhor, grande senhor"? Com uma autoridade alicerçada na força (sobre outros povos) e na religião (entre seu próprio povo), Montezuma mostrou-se incapaz de liderar os astecas contra um punhado de invasores europeus. 
Teriam as engrenagens do poder funcionado tão bem (pelo menos até ali), a ponto de disfarçarem a incapacidade de liderança por parte do imperador? Foi somente em meio a uma crise sem precedentes que a inaptidão de Montezuma II para o comando do Império Asteca ficou evidente, ainda que ele tenha sido, desde muito jovem, preparado para o cargo que ocupava. 
Supostas profecias, sugerindo a chegada de invasores que destruiriam o mundo asteca têm sido apontadas como causa para sua tímida reação diante das notícias relativas a estrangeiros que se aproximavam. Tentou negociar, ameaçou, bajulou, todavia jamais chamou seu povo às armas, em massa, para cortar a passagem aos que vinham do mar. A vitória teria sido fácil e rápida, se os astecas houvessem atacado com fúria idêntica à demonstrada mais tarde, quando suas crenças religiosas foram questionadas pelos espanhóis. Havia, também, suficientes intrigas palacianas e lutas surdas pelo poder na família real, mas nada disso explica, isoladamente, o comportamento apático do imperador ao receber Cortés e, posteriormente, ao ser aprisionado.
Montezuma morreu, ao que parece, em decorrência da pedrada na cabeça. Até os espanhóis choraram por ele, lamentando que não houvesse sido batizado por um dos religiosos que acompanhavam Cortés.

(*) CASTILLO, Bernal Díaz del. Verdadera Historia de los Sucesos de la Conquista de la Nueva España. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.


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