segunda-feira, 26 de maio de 2014

Os engenhos de açúcar foram responsáveis por grandes desmatamentos

Um engenho, para funcionar, precisava ter excelente maquinário, muitos escravos e grande quantidade de cana-de-açúcar para moer, certo?
Sim, mas era preciso muito mais. É o que diz André João Antonil (ou Giovanni Antonio Andreoni), o grande autor do Período Colonial, em se tratando da economia açucareira. Uma das maiores necessidades de um verdadeiro engenho era dispor de quantidades enormes de lenha para queimar:
"Querem as fornalhas, que por sete e oito meses ardem de dia e de noite, muita lenha, e para isso há mister dois barcos velejados, para se buscar nos portos, indo um atrás do outro sem parar, e muito dinheiro para a comprar; ou grandes matos, com muitos carros e muitas juntas de bois para se trazer." (*)
O que nos explica o excelente Antonil é que, antes de mais nada, um engenho não podia funcionar se não houvesse lenha suficiente para manter as fornalhas trabalhando. Assim sendo, um senhor de engenho tinha duas opções, devendo eleger aquela que, para si, fosse mais conveniente:
a) Não havendo matas por perto, era preciso comprar lenha que vinha de longe, sendo necessário ter dois barcos que a trouxessem dos portos. O detalhe interessante é que Antonil assevera que o revezamento desses barcos precisava ser contínuo, para garantir o suprimento indispensável. Havia ainda o inconveniente de que lenha custava caro e o senhor teria que gastar bastante com ela.
b) Uma outra possibilidade, acessível quando havia matas por perto, era ter os próprios escravos trabalhando no corte das árvores. Essa, no entanto, não seria a única despesa, já que a madeira cortada deveria ser transportada até o engenho, o que requeria carros e bois para a tarefa.
Em síntese, com matas por perto, a lenha viria em carros de bois; com matas distantes, a lenha viria em barcos. Teria de vir, de qualquer maneira, para manter o incessante labor das fornalhas. Os engenhos eram, de uma ou de outra forma, responsáveis por grandes desmatamentos.

(*) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas. Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1711, p. 2.

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