sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Como era a vida dentro de uma cidade cercada por inimigos

Cidades antigas tinham muralhas. Quando havia guerra, quem morava em povoações menores ou em áreas agrícolas menos protegidas, buscava refúgio dentro dos muros da fortaleza mais próxima. Os portões - quase sempre enormes e, por isso, muito pesados - eram fechados, de modo que, por um lado, inimigos não conseguiriam entrar facilmente, mas, por outro, quem estava do lado de dentro também não podia sair. 
Começava então o cerco. Fora, o objetivo maior do exército atacante era, se possível, danificar o muro em algum ponto, de modo que soldados pudessem entrar na cidade. Com o tempo, surgiram máquinas de guerra para esse propósito - os aríetes, por exemplo. Ainda que sempre acarretasse um número elevado de baixas, outra prática era a construção de uma rampa que atingisse o alto do muro. Torres rodantes também faziam parte do cardápio. Às vezes, a captura de algum fugitivo podia resultar na revelação de segredos militares da cidade atacada. Não é preciso lembrar que, na intenção de descobrir os pontos fracos de uma localidade, a tortura era uma útil ferramenta para fazer falar quem, de outra maneira, não abriria a boca de jeito nenhum.
Enquanto isso, o exército defensor procurava manter os inimigos à distância. Chuvas de flechas caíam sobre a cabeça dos soldados que vinham lutar junto ao muro e enormes pedras eram roladas, matando vários combatentes de uma só vez. Na Idade Média, tachos de óleo fervente eram entornados do alto das torres. Ninguém, fosse homem ou mulher, jovem ou idoso, ficava isento de alguma responsabilidade na defesa, a menos que estivesse completamente incapacitado.
Uso de torre sobre rodas para ataque a
uma cidade sitiada (³)
Entretanto, a defesa era difícil. Com os alimentos racionados, não tardava a declinar a saúde geral da população. Mais ainda, as condições de higiene, nem sempre boas em uma cidade, ficavam muito piores com a chegada de mais gente. Doenças encontravam assim terreno fértil para propagação (¹), de modo que, não poucas vezes, eram mais os que morriam por causa de uma epidemia do que os que caíam em combate. Todas essas calamidades, atingindo a população civil, faziam também muitas baixas entre os soldados, enquanto os sobreviventes, pela parca alimentação, ficavam cada vez mais fracos para lutar.
Até quando resistir? Houve guerras em que cidades sitiadas resistiram por anos (²). Tudo dependia, basicamente, do estoque de alimentos disponível (⁴) e de um bom suprimento de água. A menos que o inimigo levantasse o cerco, a derrota dos defensores, com seu cortejo de desgraças, era apenas uma questão de tempo (⁵), tanto que, em alguns casos, houve populações inteiras que cometeram suicídio, considerando esta uma solução melhor e mais honrosa que a rendição.
Eventualmente, porém, os invasores também sofriam com epidemias e decidiam ir embora; podia ser que os suprimentos que traziam chegassem ao fim, ou que não achassem água potável; outras vezes, era algum exército estrangeiro que vinha em socorro dos sitiados. Havia, ainda, a possibilidade de discórdia entre comandantes, e mesmo a morte de um monarca, abrindo questões sucessórias, podia significar uma retirada, ao menos temporária. Quando alguma dessas coisas acontecia, não era hora para festas, ainda que celebrações religiosas, em honra dos deuses, pudessem acontecer. Era tempo, sim, para muito trabalho, reparando os muros, reforçando as torres e as portas, protegendo as fontes e poços que estavam dentro e inutilizando os que estivessem do lado de fora da cidade. A experiência ensinava que era grande a possibilidade de que, algum dia, os inimigos voltassem. 

(1) Como aconteceu em Atenas, durante a Guerra do Peloponeso.
(2) Sabe-se que Siracusa, por exemplo, cercada por terra e mar pelas forças romanas durante as Guerras Púnicas, manteve a defesa por aproximadamente de dois anos.
(3) DODGE, Theodore Ayrault. A History of the Art of War Among the Romans. Boston, New York: Houghton, Mifflin & Company, 1900, p. 394.
(4) Heródoto, em Histórias, afirmou que os moradores de Babilônia não tiveram receio dos persas, quando estes cercaram a cidade, porque havia, dentro dela, um estoque considerável de alimentos. Ainda assim, a cidade foi tomada. 
(5) De acordo com Políbio de Megalópolis, os antigos romanos, quando conquistavam uma cidade que resistira a seus ataques, tinham por hábito matar a todos os que encontravam, fossem homens ou animais.


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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A atuação dos missionários jesuítas durante uma epidemia de varíola no Século XVI

A varíola foi um dos maiores terrores dos tempos coloniais. Matava, muitas vezes, mas a sobrevivência a ela era igualmente temida - não raro, desfigurava e/ou resultava em cegueira. Sendo desconhecida na América antes da chegada de europeus em fins do Século XV, mostrou-se particularmente letal entre a população indígena, havendo mesmo quem tenha acusado os conquistadores espanhóis de tê-la deliberadamente "apresentado" à população asteca. A vacinação foi introduzida no Brasil em fins do Século XVIII, mas, até lá, muita gente, de todas as idades, perderia a vida por causa da terrível doença. 
Se levarmos em conta o terror que a varíola inspirava, torna-se ainda mais surpreendente o comportamento dos missionários jesuítas quando uma epidemia de varíola irrompeu no Brasil, fazendo mortes numerosas entre indígenas. No primeiro século da colonização, a assistência médica aos colonizadores era praticamente nula - que se poderia supor, então, que ocorresse relativamente à população nativa? Vejamos o que diz um documento atribuído a Anchieta (¹):
"Em tempo das bexigas [varíola] [...], os padres andavam com alguns moços pelas casas dos índios, lavando-os e limpando-os; era tal a doença das bexigas que, curando-os desta maneira, muitas vezes lhes ficava a pele e a carne dos doentes pegada nas mãos, e o cheiro era tal que se não podia sofrer; os padres lhes acudiam com lenha e água, e andavam com os índios sãos buscando e repartindo isto, e em casa dos que tinham mandavam fazer de comer para os mais necessitados, e em alguma parte se fazia de comer cada dia para sessenta a setenta pessoas, e se os padres lhes faltavam com isto, faltava-lhes o remédio." (²)
Por suposto, ao lidar com os enfermos, os missionários tinham em vista a catequese. Prossegue o mesmo documento:
"De noite e de dia andavam os padres ministrando-lhes os sacramentos da confissão e unção sem descansar, nem terem tempo para rezar suas horas, enterrando cada dia dez e doze, ajudando-lhes a fazer as covas e trazê-los à igreja para os encomendar e enterrá-los [...]." (³)
Ao que se supõe, os padres não tinham qualquer ideia quanto ao modo como a doença se propagava, ou, se tinham, parece que enfrentavam corajosamente a possibilidade de contágio. No entanto, devido às condições de higiene em que atuavam, é razoável perguntar se, no empenho por atender às necessidades básicas dos enfermos, não acabavam, eles mesmos, quando iam de casa em casa, contribuindo para que mais gente adoecesse. Vários dentre os jesuítas estiveram doentes, embora não fique claro, pela maneira como se expressa o autor do documento (quem quer que seja ele), se tiveram varíola ou outra moléstia qualquer:
"[...] Dos grandes trabalhos que nestas doenças os padres tiveram com eles, vieram a adoecer, de que estiveram muito mal [...]." (⁴)

(1) Embora haja alguma dúvida quanto ao verdadeiro autor, esse documento é autenticamente do Século XVI. É provável que a epidemia de varíola referida seja a de 1563.
(2) ANCHIETA, Pe. Joseph de, S.J. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933, p. 380.
(3) Ibid.
(4) Ibid., pp. 380 e 381.


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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Esmolas para as almas do purgatório

François Biard, pintor francês que esteve no Brasil entre 1858 e 1859, fez registros interessantes que resultaram na publicação de um livro, Dois Anos no Brasil. A obra apresenta, às vezes, um tom sarcástico, mas tem lá sua importância por documentar aspectos do dia a dia da capital do Império e de outras localidades, que, parecendo "comuns" ou "normais" aos habitantes do Brasil, talvez não fossem preservados, a não ser pelo olhar de curiosidade desse visitante estrangeiro. Assim é que encontramos este relato:
"Entre as notas e esboços apanhados nessa época pelas ruas do Rio, encontro um gordo burguês que usa sobre sua impecável roupa preta uma opa de seda verde, e estende numa das mãos aos transeuntes uma bolsa encarnada. Que faria esse homem, assim encostado à esquina da casa que ficava fronteira ao meu hotel? Soube-o de sua própria boca: tirava esmolas e dizia invariavelmente aos que por perto passavam:
"Para as almas do purgatório, por amor de Deus!"" (¹)
No Século XIX havia muita gente que acreditava que, quando alguém morria, não sendo santo o bastante para que sua alma fosse para o céu e nem perverso ao extremo, a ponto de ir diretamente ao inferno, tinha de comparecer ao purgatório, de onde, depois de algum tempo, havendo se purificado de seus pecados, podia ir ao céu. Para quem adotava esse ponto de vista, era importante a celebração de missas por intenção das "almas do purgatório", na convicção de que isso ajudaria a libertá-las de seu inferno temporário. Portanto, as esmolas, que o burguês visto por Biard pedia, eram destinadas a custear a celebração de missas.

Coletores de esmolas para fins religiosos (²)

Se você, leitor, tem curiosidade em saber se muita gente contribuía, considere: quem de fato acreditava na existência do purgatório, tinha boas razões para doar, não fosse o caso de parentes e amigos terem de sofrer por longo tempo em virtude da negligência dos vivos; além disso, a ideia de que, ao morrer, o avarento que não fizera doações em favor dos mortos podia muito bem pagar por isso no purgatório ou até, de uma vez por todas, no inferno, devia funcionar como um estímulo poderoso para induzir à generosidade. Na dúvida, era melhor não arriscar...  

(1) BIARD, Auguste François. Dois Anos no Brasil. Brasília: Ed. Senado Federal, 2004, p. 121.
(2) __________ Brasilian Souvenir. Rio de Janeiro: Ludwig & Briggs, 1845. O original pertence à BNDigital; a imagem foi editada digitalmente para facilitar a visualização neste blog. 


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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Sobre a esperteza de homens e animais

Documentários de televisão e revistas de curiosidades abordam, de vez em quando, a questão da inteligência dos animais. Chegam a apresentar listas, algumas mostrando uma hierarquia de inteligência entre as raças de cães, outras com um índice de esperteza entre os primatas, e por aí adiante. Sim, leitor, eu sei que o mais inteligente entre os cães é aquele que você tem em casa (todo mundo acha a mesma coisa de seus animais de estimação), mas não é preciso ser um grande observador para constatar que, na natureza, há mesmo alguma variação quanto à habilidade, astúcia, inteligência, afinal.
E os humanos, onde ficam nessa escala? 
Nada de sorrisos. Políbio de Megalópolis, um grego que viveu entre romanos e foi contemporâneo de parte das Guerras Púnicas, escreveu (e já posso ouvir latidos, miados e outros ruídos em comemoração):
"O homem parece o mais esperto dentre os animais, porém há razão de sobra para crer que é o mais miserável. Todos os outros animais estão submetidos apenas às paixões do corpo, e só por elas é que erram, enquanto o homem, além de servir às paixões do corpo, é também escravo de suas próprias opiniões e, portanto, erra contra a natureza e contra a razão." (*)
É direito seu, leitor, concordar ou não com Políbio. Devo lembrar, no entanto, que, de brigas de torcedores de futebol a guerras e massacres por divergências religiosas, passando por uma quantidade inumerável de outras ausências de bom senso, há provas incontestes de que a escravidão às opiniões, sejam elas próprias ou alheias, não é exatamente um fato que contribua para honrar a espécie humana.

(*) O trecho citado da História de Políbio é tradução de Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.


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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Colombo não encontrou monstros na América

Ilustração de um exemplar manuscrito (c. 1475 - 1525) de As Viagens de Marco Polo

Em uma carta datada de 18 de fevereiro de 1493, cujo destinatário era Dom Gabriel Sanchez, escrivão dos "Reis Católicos", Fernando de Aragão e Isabel de Castela, Cristóvão Colombo, que há pouco havia chegado à América Central Insular com sua pequenina frota, composta por apenas três embarcações, fez a seguinte observação:"Ao contrário do que se imaginava, não encontrei aqui monstros, mas homens de grande respeito e bondosos." Mais adiante, na mesma carta, reiterou: "Não vi monstros, nem há quem deles tenha conhecimento [...]."
Parece evidente que, se foi necessário a Colombo dizer duas vezes que não havia monstros nas terras a que acabara de chegar é porque, em seu tempo, muitos criam piamente que, para além das terras já conhecidas dos europeus, quer em seu próprio continente, ou em lugares da Ásia e da África, haveria, sim, criaturas disformes, estranhas, brutalmente agressivas, monstruosas, enfim. Não que haja alguma prova de que Colombo, homem de certa instrução que era, fosse um adepto dessas tolices, mas seu relato trabalhava com a expectativa dos europeus de seu tempo. Além disso, mesmo autores eruditos do século seguinte ao da chegada de europeus à América costumavam incluir em suas obras alguma menção a seres mitológicos como se, de fato, existissem, talvez porque dessem sua existência como certa, ou, ainda, para não decepcionar os leitores.
É fato que Colombo, a essa altura dos acontecimentos, ainda pensava que havia circunavegado o globo terrestre e chegado às "Índias", Catai e Cipango (os dois últimos, China e Japão, respectivamente), terras orientais referidas por Marco Polo e que ele, Colombo, supunha ser possível alcançar e agregar às possessões da Espanha, navegando para o Ocidente. Portanto, devia esperar que, a qualquer momento, pudesse avistar as maravilhas de que falara o mercador veneziano mais de dois séculos antes. Nesse sentido, a espetacular viagem de Colombo seria uma enorme frustração. É que no caminho para Cipango e Catai havia todo um continente - a América - mas ele ainda não sabia disso. 


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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Capitanias hereditárias

Capitanias hereditárias foram chamadas as (enormes) faixas de terra que a Coroa portuguesa doou a leais vassalos de el-Rei, suposta a obrigação que teriam de colonizá-las com seus próprios recursos, além de colocá-las a salvo de invasores de várias nacionalidades que olhavam cobiçosamente para o belo litoral brasileiro e tudo o mais que poderia haver interior adentro. Teoricamente, o território de cada capitania era limitado, a leste, pelo Oceano Atlântico, e, a oeste, pela linha do Tratado de Tordesilhas. Ora, como ninguém sabia exatamente onde ficava a dita linha, a colonização avançou, salvo um ou outro protesto da Coroa de Espanha, até onde o apetite descobridor dos colonizadores conseguiu ir.
Ao donatário de uma capitania correspondiam direitos nada desprezíveis, dentre os quais o de deixar as terras como herança ao filho mais velho, fazer aplicar a justiça (ainda que com certos limites), fundar novas povoações, cobrar alguns impostos, doar sesmarias e requerer, dos moradores, serviço militar quando a capitania ou outras áreas coloniais estivessem sob ameaça. Diante de tanto poder, não chega a ser surpresa que alguns autores tenham entendido os donatários como uns verdadeiros senhores feudais. 
Curiosamente, a ideia de que as capitanias eram uma espécie de feudos, semelhantes aos existentes na Europa Medieval, não nasceu na cabeça de nenhum fervoroso marxista que tentasse, à unha, encaixá-las em uma lógica de modos de produção que pudessem justificar, no plano teórico, a luta por uma revolução socialista no Brasil. Longe disso! Dentre outros autores, Varnhagen (¹), Capistrano de Abreu (²) e Euclides da Cunha (³) referiram-se às capitanias com linguagem emprestada das tradições feudais. No entanto, Frei Gaspar da Madre de Deus, autor setecentista, ao tratar da questão das capitanias hereditárias, cuidou em explicar que eram "grandes províncias em que el-Rei d. João III dividiu a Nova Lusitânia [...]." (⁴) Não deixa de ser interessante que, vivendo quando algumas capitanias ainda existiam, não ocorresse ao religioso beneditino, natural de São Vicente, a ideia de que elas eram de algum modo comparáveis aos feudos medievais. Só mais tarde apareceriam tentativas nesse sentido.
É verdade que as capitanias tinham algumas características que podiam recordar a autonomia dos feudos, mas, em última análise, os donatários e os administradores por eles indicados estavam submetidos a uma autoridade inconteste, a do rei de Portugal. Jamais seria formada, no Brasil, uma autêntica teia de relações de suserania e vassalagem, marca típica do feudalismo no medievo. Colonos nunca foram servos da gleba, e, quanto à escravidão de indígenas e de africanos, nem vale a pena comentar, tamanha a distância entre um fenômeno e outro. Sim, havia a hereditariedade na sucessão, certa mania de grandeza heráldica entre as famílias de donatários, mas não ia muito além. Prova disso é que, ao instituir no Brasil o Governo-Geral, a Coroa reduziu sensivelmente a esfera de poder dos donatários, que até estrebucharam contra as novidades, porém inutilmente. Era também a Coroa que arbitrava questões sucessórias, que comprava capitanias de seus herdeiros sempre que isso lhe parecia bom negócio e que também, quando lhe deu na telha, acabou com o sistema, que, de resto, se não foi um fracasso absoluto, sempre andou bem longe de ser classificado como um êxito retumbante.

(1) "Pouco antes, o governo português [...] viu-se obrigado a adotar o plano de colonizar pelo simples meio de ceder essas terras a uma espécie de novos senhores feudais, que, por seus próprios esforços, as guardassem e cultivassem, povoando-as de colonos europeus, com a condição de prestarem preito e homenagem à Coroa."
VARNHAGEN, F. A. História Geral do Brasil vol. 1, 2ª ed. Rio de Janeiro: Laemmert, 1877, p. 130.
(2) "Em suma, convicto da necessidade desta organização feudal, D. João III tratou menos de acautelar sua própria autoridade que de armar os donatários com poderes bastantes para arrostarem usurpações possíveis dos solarengos vindouros, análogas às ocorridas na história portuguesa da média idade."
ABREU, J. Capistrano de. Capítulos de História Colonial: 1500 - 1800. Brasília, Ed. Senado Federal, 1998, p. 49.
(3) "Enfeudado o território, dividido pelos donatários felizes, e iniciando-se o povoamento do país com idênticos elementos, sob a mesma indiferença da metrópole, voltada ainda para as últimas miragens da "Índia portentosa", abriu-se separação radical entre o Sul e o Norte."
CUNHA, Euclides da. Os Sertões. 
(4) MADRE DE DEUS, Frei Gaspar da. Memórias para a História da Capitania de São Vicente, Hoje Chamada de São Paulo, do Estado do Brasil. Lisboa: Typografia da Academia, 1797, p. 1.


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sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Férias escolares no Século XVI

Nos próximos dias, quase todos os estudantes brasileiros estarão deixando os estabelecimentos de ensino para as férias de verão. Dificilmente haverá tempo mais aguardado no ano, é não é de hoje que é assim. Em um documento datado de 31 de dezembro de 1585 e que é atribuído ao padre José de Anchieta, ficamos sabendo que nos colégios que os jesuítas tinham no Brasil, as férias escolares aconteciam nos meses de dezembro e janeiro:
"Das férias gozam os estudantes em dezembro e janeiro. Os estudos começam em 4 de fevereiro." (¹)
Entre as razões para as férias nessa época estavam os festejos associados ao Natal e ao Ano-Novo e as altas temperaturas de dezembro e janeiro, consideradas desfavoráveis aos estudos (²).
Há mais de quatrocentos anos, portanto, as férias escolares acontecem na mesma época, e é pouco provável que alguém esteja seriamente interessado em introduzir alguma mudança. Quem foi que disse que coisas antigas sempre devem dar lugar a inovações? 

(1) ANCHIETA, Pe. Joseph de, S.J. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933, p. 425.
(2) Alguém discorda?


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