quarta-feira, 5 de junho de 2024

O Brasil, depois que Tomé de Sousa voltou a Portugal

                                                                                "Qual homem pode haver tão paciente, 
                                                                                Que, vendo o triste estado da Bahia 
                                                                                Não chore, não suspire e não lamente?"
                                                                                                                   (Gregório de Matos)

Muitos dentre os primeiros colonizadores do Brasil não eram gente de costumes propriamente exemplares, e menos ainda o eram alguns dos clérigos que aportaram em terras portuguesas na América durante o Século XVI (¹). Em uma carta escrita pelo missionário jesuíta Manuel da Nóbrega, tendo Tomé de Sousa, primeiro governador-geral do Brasil, como destinatário, pode ser lido este relatório bem pouco edificante:
"E assim está agora a terra nestes termos, que se contarem todas as coisas desta terra, todas acharão cheias de pecados mortais, cheias de adultérios, cheias de fornicações, excessos e abominações em tanto, que [...] escassamente se oferece um ou dois que guardem bem seu estado, ao menos sem pecado público. Pois dos outros pecados que direi, não há paz, mas tudo ódio, murmurações, roubos e rapinas, enganos e mentiras; não há segurança, nem se guarda um só mandamento de Deus, e muito menos os da Igreja." (²) 
A carta foi escrita por Nóbrega em 5 de junho de 1559, depois que Tomé de Sousa, cumprido seu tempo de governo no Brasil, havia retornado a Portugal. Portanto, a ideia seria expor como andavam os colonizadores, em particular na Bahia, onde fora fundada a primeira capital do Brasil. Já estava concluído, também, o segundo governo-geral, de Duarte da Costa, e, quanto ao terceiro, de Mem de Sá, começara há cerca de ano e meio. 
Fica evidente que o padre Manuel da Nóbrega conservava certa amizade com o primeiro governador-geral, e era pessimista, não apenas quanto à religiosidade dos colonizadores, mas até quanto à decência no convívio e ordem pública. Não seria fácil, para nenhum governador, impor regras de conduta a uma população que se via, ao pisar no Brasil, na liberdade decorrente de um vasto território, onde escasso seria o controle que autoridades civis e eclesiásticas poderiam exercer. 

(1) As acusações eram numerosas contra padres que vieram ao Brasil em companhia do primeiro bispo, Pedro Fernandes Sardinha. Eram destinados, não à catequese de indígenas, mas ao atendimento dos colonizadores portugueses.
(2) Citado em: LISBOA, Balthazar da Silva. Anais do Rio de Janeiro, tomo VI. Rio de Janeiro: Seignot-Plancher, 1835, p. 68.


Veja também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.