Em consequência da péssima alimentação, muitos soldados brasileiros que lutaram na Guerra do Paraguai foram acometidos por beribéri, doença de carência da vitamina B1
Durante os anos 1864 a 1870 ocorreu aquela que, no Brasil, é conhecida como "Guerra do Paraguai", ocasião em que, mais que enfrentar e expulsar os invasores de seu território, coube ao Brasil a tarefa de lutar contra as próprias deficiências.
Os transportes terrestres eram ainda muito precários, assim como as comunicações, principalmente no interior do país. Na prática, uma evidência de que o Brasil era, em grande parte, desconhecido de seus habitantes, e mesmo de seus governantes. Em consequência, o deslocamento de tropas e a entrega de suprimentos a elas destinados, sem a necessária celeridade, tornavam o planejamento da guerra, já bastante criticado, ainda mais difícil. Na marcha pela Província de Mato Grosso, por exemplo, verificou-se quanto eram falhos os mapas disponíveis. Sem alimentação adequada, os militares, indígenas carregadores, tropeiros e mesmo mulheres e crianças que os acompanhavam, viram-se em extremos de fome e doença. Não deve causar surpresa, portanto, que, para escapar ao recrutamento, a população adotasse expedientes curiosos, até cômicos. Poucos, dentre os "voluntários da Pátria", eram, de fato, voluntários. A maioria fora recrutada à força.
Nas memórias de Alfredo de Escragnolle Taunay, que participou da guerra como jovem oficial do Exército brasileiro, encontramos esta descrição das provações enfrentadas pela coluna que, percorrendo o centro-oeste do país, passava fome à espera de suprimentos que nunca os alcançavam:
Os transportes terrestres eram ainda muito precários, assim como as comunicações, principalmente no interior do país. Na prática, uma evidência de que o Brasil era, em grande parte, desconhecido de seus habitantes, e mesmo de seus governantes. Em consequência, o deslocamento de tropas e a entrega de suprimentos a elas destinados, sem a necessária celeridade, tornavam o planejamento da guerra, já bastante criticado, ainda mais difícil. Na marcha pela Província de Mato Grosso, por exemplo, verificou-se quanto eram falhos os mapas disponíveis. Sem alimentação adequada, os militares, indígenas carregadores, tropeiros e mesmo mulheres e crianças que os acompanhavam, viram-se em extremos de fome e doença. Não deve causar surpresa, portanto, que, para escapar ao recrutamento, a população adotasse expedientes curiosos, até cômicos. Poucos, dentre os "voluntários da Pátria", eram, de fato, voluntários. A maioria fora recrutada à força.
Nas memórias de Alfredo de Escragnolle Taunay, que participou da guerra como jovem oficial do Exército brasileiro, encontramos esta descrição das provações enfrentadas pela coluna que, percorrendo o centro-oeste do país, passava fome à espera de suprimentos que nunca os alcançavam:
"A penúria de víveres era tal e a tão desesperado estado se chegara, que a alimentação geral era quase exclusiva de frutos do mato, sobretudo jatobás, cuja abundância tomava visos de providencial. E as autoridades mandavam fazer pelos soldados colheitas enormes de sacos, que depois eram distribuídas como se fossem rações determinadas pela lei!... O que sofreu a mísera coluna, embora acostumada à miséria, pela estada no Coxim, ultrapassa quaisquer limites." (¹)Como consequência de tal "dieta", a soldadesca foi acometida de uma doença de carência conhecida como beribéri, resultado da falta de vitamina B1 (²). Continua o relato de Taunay:
"Que enfermidade era, afinal, essa? Nada mais nada menos do que o "beribéri", de que ainda não se tinha até então falado em todo o Brasil, e que se tornou tão conhecido, sem perder, contudo, por isso, o caráter de gravidade, que o distingue." (³)Surpreendente é que se esperasse que, assim doentes, soldados e oficiais estivessem prontos para o combate:
"[...] Como não apanhar "beribéri" em tais condições? Fora até fisiologicamente absurdo" (⁴).De longe, no Rio de Janeiro, capital do Império, aguardavam-se notícias da guerra, e os jornais, avidamente, esperavam por cartas dos combatentes, que destacassem atos de heroísmo espetaculares, muito úteis quando se pretendia uma explosão de sentimentos patrióticos. O dia a dia do conflito exigia, porém, outro tipo de coragem, capaz de perseverar em meio às maiores adversidades, mas não muito interessante se a ideia fosse vender jornais ou despertar a animosidade popular.
(1) TAUNAY, Alfredo de Escragnolle. Dias de Guerra e de Sertão. São Paulo: Melhoramentos, 1927, p. 89.
(2) Tiamina.
(3) TAUNAY, Alfredo de Escragnolle. Op. cit., p. 90.
(4) Ibid., p. 97.
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