Ipê-amarelo |
Com uma vassoura de folhas de taquara, ela persevera em varrer ao redor do casinholo. O marido, tropeiro, se fora, há dois meses, com a gente de serviço. Viagem longa até o mar, sem data certa para volta. A não ser pelos sogros, está sozinha. O filho, casado, mora longe, e não dá notícias há anos.
Dentro de casa, a sogra atiça a chama do fogão, arruma a lenha e quase se esconde na fumaça. Velha forte, acostumada ao trabalho duro, sem reclamar, ajuda na cozinha, boa companhia. O sogro, sentado na porta, segura na boca a sovela, e, com uma faquinha, vai cortando tiras de couro, que os dedos enrijecidos já não conseguem trançar. É toda a memória que ainda retém, lembrança dos bons tempos em que era seleiro de respeito.
Ela continua a varrer. Toda a paisagem, até onde a vista alcança, implora por chuva. Mas se chove, os caminhos dos tropeiros ficam enlameados. Sofrem os homens, sofrem muito mais as mulas. Duas araras passam voando, com a gritaria de sempre. Quando florescerão os ipês?
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