terça-feira, 3 de agosto de 2021

Por que a madeira dos ipês não era usada na navegação a vapor

No Século XIX o carvão era usado como combustível na maioria das embarcações a vapor. No Brasil, porém, tornou-se comum queimar madeira, porque o carvão, sendo importado, era caro e estava sujeito às incertezas do câmbio. Não era o caso da madeira, que, nesse tempo, muita gente achava que jamais acabaria. Madeiras nobres, de altíssimo valor comercial, eram consumidas como se fossem coisa inútil.
Observando o que acontecia na navegação pelo rio Paraguai, João Severiano da Fonseca (¹) assim descreveu o desmatamento que presenciava:
Ipê-rosa
"À beira Paraguai (²) [...], a custo se avista um ou outro jacarandá, guatambu ou vinhático, que o mais já tem desaparecido para se converter em combustível dos vapores (³) que sulcam o rio: precioso material que povoava as margens e que agora só de longe em longe deixa ver um ou outro exemplar, que de julho a setembro, na estação das flores, torna tão belas as matas, esmaltando-lhes o verde-escuro com as altivas grimpas transmudadas em ramalhetes enormes e formosíssimos [...]." (⁴)
Esse autor notou, contudo, que os belos ipês não eram cortados, e explicou:
"Se ainda abundam e avultam os ipês, peúvas na Província [de Mato Grosso], não é porque sejam pior combustível, mas por embotarem os machados e cansarem o braço dos lenhadores. [...]" (⁵)
Não era, portanto, pela beleza que essas árvores eram poupadas.
Locomotivas a vapor também usaram madeira como combustível no Brasil, mas, neste caso, o desmatamento decorrente tornou-se uma preocupação. Buscou-se uma madeira que fosse de crescimento rápido, que se adaptasse ao clima e solo do País e que pudesse ser cultivada para prover a lenha necessária. Foi assim que os eucaliptos, de origem australiana, foram testados e introduzidos no Brasil.

(1) Veterano da Guerra do Paraguai, foi integrante, como médico, da expedição que demarcou a fronteira entre o Brasil e a Bolívia.
(2) Referência ao rio Paraguai.
(3) Embarcações a vapor.
(4) FONSECA, João Severiano da. Viagem ao Redor do Brasil 1875 - 1878 Volume 1. Rio de Janeiro: Typographia de Pinheiro e C., 1880, pp. 152 e 153.
(5) Ibid., p. 153.


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