terça-feira, 24 de agosto de 2021

Como estava a Fábrica de Ferro de Ipanema em 1852

Tendo chegado ao Brasil em 1810, o Barão de Eschwege (¹) percorreu a Província de Minas Gerais investigando o que poderia ser feito para que a mineração ganhasse força. Notou que havia por lá algumas fábricas de ferro, tanto públicas quanto particulares, mas, mesmo reconhecendo que eram importantes para o País, em virtude da produção de artigos indispensáveis, mostrou-se cético quanto às possibilidades de que se tornassem lucrativas. 
Alto-forno na Fábrica de Ferro de Ipanema
Não obstante, ao considerar a  Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema (²), localizada na Província de São Paulo, julgou que oferecia maior probabilidade de êxito:
"A fábrica de S. João de Ipanema oferece maiores vantagens pela sua localidade, porque estabelecendo-se aí uma fábrica de armas e ferrarias, onde se fabrique em obra grande parte do ferro para os Reais Arsenais, etc., ela por si mesma se sustentará [...]." (³)
Passaram-se algumas décadas. Na edição de 27 de maio de 1852, o jornal Aurora Paulistana trouxe um relatório do presidente da Província de São Paulo,  José Tomás Nabuco de Araújo, no qual estava incluída esta observação sobre a Fábrica de Ipanema: "[...] no ofício sob o qual remeti ao governo imperial [...] indiquei como essencial o arrendamento dessa fábrica [de Ferro de Ipanema], sendo que, se esse arbítrio não for tomado, cumpre tirar esse estabelecimento do estado pouco lisonjeiro em que se acha, e montá-lo como deve ser para que alguma utilidade produza, reparar os edifícios e oficinas arruinadas, dar-lhe mestres hábeis e peritos, construir ou reformar as máquinas e aparelhos, sem os quais, como declara o diretor, não é possível a refundição do ferro e o fabrico de obras importantes." (⁴)
Ora, meus leitores, parece que, dessa vez, Eschwege errou, e por larga margem. Não lamento, porém. Se a Fábrica de Ipanema houvesse prosperado, provavelmente as construções do Século XIX acabariam demolidas para dar lugar a edifícios mais modernos. Mas, como nada disso ocorreu, quem a visita pode dar um mergulho no passado, como poucos lugares no Brasil oferecem. Alguém acha isso ruim?

(1) Foi convidado a vir ao Brasil pelo governo do príncipe D. João, assim como vários outros cientistas e artistas estrangeiros.
(2) Município de Iperó - SP. No Século XIX era parte de Sorocaba.
(3) ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Notícias e Reflexões Estadísticas a Respeito da Província de Minas Gerais.
(4) AURORA PAULISTANA, Ano I, nº 45, 27 de maio de 1852, p. 1.


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