Óperas, em sua imensa maioria, contam histórias malucas, insanas mesmo. Querem ver? Um alto oficial militar egípcio é condenado a morrer trancafiado em uma cripta e, ali, descobre que uma escrava por ele apaixonada entrou sem ser vista para morrer também (Aída); encontros e desencontros amorosos acabam em duelo e morte (Cavalleria Rusticana); na França do Século XVIII uma mulher, presa sob a acusação de roubo e prostituição, é condenada a degredo na Louisiana, onde morre, acompanhada por um jovem nobre que, apaixonado por ela, fizera questão de ir a tão inóspito lugar (Manon Lescaut); o barão Scarpia tortura o pintor Mario Cavaradossi e ordena sua execução, mas Floria Tosca apunhala o barão, Cavaradossi é executado e Tosca se suicida (Tosca). Basta! Em alguns casos, os libretistas se inspiraram em romances de sucesso, enquanto em outros, apenas deram asas exageradas à criatividade. Quem se importa com essas histórias cabeludas, se a música é capaz de provocar alucinações até em estátuas (desde que não seja a do Comendador em Dom Giovanni)?
Mas abram os olhos, leitores. As palavras podem conter ideias venenosas. Considerem este trecho de uma das árias mais famosas de todos os tempos:
"La donna è mobile qual piuma al vento,
Muta d'accento e di pensiero..."
Sim, é de Rigoletto, música de Verdi, com libreto de Francesco Maria Piave. Aos que tendem a concordar com o que se diz, recordo que o libretista colocou estas palavras na boca do Duque de Mântua, o crápula da ópera. Contudo, é provável que muita gente seja capaz de cantarolar e aplaudir, sem sequer pensar no sentido dos versos. Leitoras, é melhor considerar este assunto a sério.
Por que os cantores de ópera precisam ser capazes de uma emissão sonora elevadíssima? Ora, leitores, porque quando a ópera se desenvolveu, não havia meios elétricos e/ou eletrônicos de amplificação - nada de microfones, portanto. Assim, à medida que a ópera se popularizou, atingiu camadas mais amplas da sociedade, atraindo mais público, os teatros foram ficando maiores, e os cantores e cantoras precisaram ter um vozeirão, coisa não requerida dos cantores líricos de câmara. A técnica desenvolveu-se, e, com ela, a exigência por longo tempo de estudo e preparação, até que um candidato a herói ou heroína dos palcos operísticos estivesse em condições de estrear.
Concluo com esta observação: a ópera, que hoje, como regra, está restrita à apreciação por parte de uma elite musicalmente educada, nasceu como espetáculo artístico destinado a poucos, tornou-se diversão popular, atraindo multidões (com muito ou pouco conhecimento de música), ousou influenciar o comportamento social, mesmo que, circunstancialmente, suscitando verdadeiros escândalos, intrometeu-se até na política e ainda tem adeptos apaixonados. Já não é, contudo, espetáculo para as massas. Perdeu a luta para concorrentes de peso que o Século XX se encarregou de apresentar.
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Felizmente nos dias atuais esse tipo de evento é mais acessível - pelo menos nas capitais. Aprecio muito espetáculos de Ópera. No Theatro da Paz, em Belém, frequentemente ocorrem de forma gratuita.
ResponderExcluirÉ excelente que seja assim em Belém. Um exemplo para outras cidades.
ExcluirBoa tarde minha querida amiga. Confesso que nunca vi uma ópera ao vivo. Mais sou apaixonado por música boa e de qualidade. Um ótimo sábado.
ResponderExcluirQuando tiver oportunidade, veja. Você certamente vai gostar.
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