quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Atletas gregos da Antiguidade não usavam uniformes esportivos

Em época de grandes competições, fabricantes de material esportivo fazem todo o esforço para que atletas de renome usem uniformes com sua marca. Supondo que esses competidores obtenham sucesso, provavelmente seus fãs irão imitá-los, usando roupas semelhantes. Se isso é identificação com uma imagem vitoriosa ou apenas magro substituto para um desempenho atlético não tão notável, não vem ao caso. Os empresários do setor sabem que patrocinar campeões é um bom negócio.
Não era assim na Grécia Antiga, não só porque as grandes empresas do ramo esportivo ainda teriam de esperar milênios para vir à existência, como porque atletas gregos não usavam uniformes.  Melhor dizendo, não usavam roupa alguma durante as competições. Qual a razão para essa falta de compostura (¹)?
Pugilista da Antiguidade (³)
De acordo com Tucídides, ateniense do Século V a.C. que não só presenciou como lutou na Guerra do Peloponeso, os donos da ideia de competir com os mesmos trajes com que haviam nascido foram os espartanos, que tinham o costume de passar óleo no corpo antes de treinar ou disputar uma prova. Contudo, ainda conforme Tucídides, espartanos somente haviam começado a competir nus há pouco tempo, porque o costume anterior, vigente em tempos antigos, era que, nos jogos olímpicos, atletas usassem ao menos alguma roupa ao redor da cintura (²).
É provável que espartanos e, a partir deles, outros atletas, passassem óleo no corpo antes das lutas, para evitar que oponentes tivessem facilidade em agarrá-los. Também se tem dito que o ideal estético grego, revelado em muitas esculturas que sobreviveram até nossos dias, mostra que a perfeição física era um atributo muito valorizado e, portanto, não haveria razão para ocultar, sob roupas, o corpo dos que competiam nos jogos. Vale notar, também, que nem mesmo nos locais de treino era comum que atletas usassem algum tipo de vestuário.
Quanto aos espartanos, pela educação que recebiam desde a infância, com o objetivo de torná-los excelentes soldados sob quaisquer circunstâncias, estavam acostumados a usar pouca roupa, mesmo no dia a dia. Foi o que disse Plutarco, ao traçar a biografia de Licurgo (⁴):
"Depois da idade de doze anos, [os meninos espartanos] vestiam-se apenas com uma túnica simples que devia durar um ano, e jamais usavam roupas dispendiosas. Seu corpo era bronzeado e endurecido pela exposição ao ar, ao frio, ao calor e às tarefas penosas que deviam realizar. Não eram estimulados a hábitos refinados, não se banhavam com frequência e não se perfumavam [...], embora para o banho tivessem datas definidas a cada ano [...]." (⁵)
Diante disso, meus leitores, não será injusto pensar que suportar o aroma resultante da presença dos atletas espartanos nas competições já era uma proeza homérica. Que surpresa haveria em que tantas vezes saíssem vencedores?

(1) Falta de compostura para nossos critérios de ocidentais do Século XXI.
(2) Cf. TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso, Livro I, § 6.
(3) HEKLER, Anton. Die Bildniskunst der Griechen und Römer. Stuttgart: Julius Hoffmann, 1912, p. 85.
(4) Legislador espartano semilendário.
(5) PLUTARCO. Vitae parallelaeO trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.


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2 comentários:

  1. Marta, seus textos são muito ricos e refletem pesquisa séria e comprometida. Sérios, honestos, trazem informações valiosas sobre hábitos, fatos e culturas sobre os quais dificilmente paramos para pensar. Obrigada pelo trabalho. Sigo repassando seus textos, sempre com os devidos créditos, evidentemente. Grande abraço.

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    1. Obrigada, Anita, por compartilhar os textos. Tenha um ótimo final de semana!

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