Nos tempos coloniais, prescrições religiosas obrigavam à abstinência de carne em um número elevado de dias. Como as regras de jejum eram severamente observadas (ao menos nas aparências), era usual, havendo peixe, que esse servisse como alimento. Vegetais eram permitidos, mas, em muitos lugares, o principal alimento nos "dias de peixe" era a farinha de mandioca.
Contudo, em algumas áreas, uma saída engenhosa foi encontrada para contornar a regra da abstinência de carne. O jesuíta José de Moraes, que escreveu a História da Companhia de Jesus na Extinta Província do Maranhão e Pará, publicada originalmente em 1759, explicou, citando um relato do padre Antônio Vieira (¹), também jesuíta:
"Nascem estes jabutis e vivem sempre na terra, sem nunca entrarem no mar, nem nos rios, e contudo estão julgados por peixe, e como tais se comem nos dias em que se proíbe a carne, por se ter averiguado que têm o sangue frio. [...]." (²)
De fato, jabutis são pecilotérmicos. Daí a se tornarem peixes, vai uma grande distância. Fundamentos de zoologia, porém, não estavam em questão, quando o assunto era burlar a abstinência de carne. Lamentável para os jabutis, é claro.
(1) Famoso por seus sermões, Vieira é conhecido dos estudantes brasileiros que têm contato com sua obra nas aulas de Literatura (espero que ainda seja assim!).
(2) MORAES, José de S.J. História da Companhia de Jesus na Extinta Província do Maranhão e Pará. Rio de Janeiro: Typographia do Commercio, 1860, p. 460.
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