O jenipapo (Genipa americana) era muito apreciado por indígenas do Brasil, em razão de sua utilidade nas pinturas corporais. Como se sabe, indígenas amavam os banhos frequentes, e as pinturas feitas com jenipapo, mesmo com tanta água, eram duráveis - uns dez a doze dias, segundo afirmou Jean de Léry em Histoire d'un Voyage Faict en la Terre du Brésil. Já Pero de Magalhães Gândavo estimou que as pinturas duravam nove dias:
"[...] assim machos como fêmeas costumam tingir-se com o sumo de uma fruta que se chama jenipapo, que é verde quando se pisa e depois que se põe no corpo e se enxuga fica muito negro, e por muito que se lave não se tira senão aos nove dias: isto tudo fazem por galantaria." (¹)
Colonizadores logo descobriram que, além do uso indígena nas pinturas corporais, o jenipapo era bom, também, para conservas, e disso sabemos por informação de Gabriel Soares (²), que, interessado como era em tudo o que se referia à natureza do Brasil, deixou este interessante registro:
"Jenipapo é uma árvore que se dá ao longo do mar e pelo sertão [...]. A sua folha é como de castanheiro, a flor é branca, da qual lhe nasce muita fruta, de que toma cada ano muita quantidade, as quais são tamanhas como limas, e de sua feição; são de cor verdoenga, e como são maduras se fazem de cor pardaça e moles, e têm honesto sabor e muito que comer, com algumas pevides dentro, de que estas árvores nascem. Quando esta fruta é pequena, faz-se dela conserva, e como é grande antes de amadurecer tinge o sumo dela muito, com a qual tinta se tinge toda a nação do gentio em lavores pelo corpo, e quando põe esta tinta é branca como água, e como se enxuga se faz preta como azeviche; e quanto mais a lava, mais preta se faz, e dura nove dias, no cabo dos quais se vai tirando." (³)
Além disso, portugueses logo perceberam que a madeira do jenipapeiro podia ser utilizada com proveito para uma variedade de trabalhos, inclusive na arte náutica:
"[...] tratamos do jenipapo no tocante ao fruto, agora cabe tratar no tocante à madeira, cujas árvores são altas e de honesta grossura, têm a folha como castanheiro, a madeira é de cor branca como buxo, de que se fazem muitos e bons remos, que duram mais que os de faia; enquanto verdes são pesados, mas depois de secos são muito leves; esta madeira não fende nem estala, de que se faz também toda a sorte de poleame, por ser doce de lavrar, e cabos e cepos para toda ferramenta de toda sorte." (⁴)
(1) GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil. O Tratado de Gândavo foi escrito por volta de 1570 e impresso pela primeira vez em 1826.
(2) Gabriel Soares de Sousa foi senhor de engenho na Bahia durante o Século XVI.
(3) SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Rio de Janeiro: Laemmert, 1851, p. 185.
(4) Ibid., p. 218.
Veja também:
O que uma pessoa aprende por aqui, Marta. Grato.
ResponderExcluirFeliz Natal!
Olá, um Feliz Natal a você também, e não deixe de postar novos textos no seu blog, sim?
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