segunda-feira, 1 de junho de 2015

Soldados de Roma contra a fúria do Mar do Norte

No ano 16 d. C. as legiões romanas comandadas por Júlio César Germânico, um general destacado e irmão do futuro imperador Cláudio, alcançaram, por uma rota marítima, as terras dos bárbaros germanos que viviam além do Reno. Lá entraram em combate contra os comandados de Armínio e venceram. Do ponto de vista romano, lavava-se a honra das legiões lideradas por Públio Quintílio Varo, que em 9 d.C. haviam sido destroçadas pelos germanos.
A ação das forças de Germânico foi bem planejada. Sabendo que ir por terra resultaria em grande desgaste tanto para seus soldados como para os cavalos, o comandante romano preparou transporte pelo Mar do Norte, cuidando em viajar numa ocasião de clima favorável e, tanto quanto possível, buscando combater em campo aberto, uma situação mais propícia ao raciocínio militar de Roma do que os combates em meio a densas florestas, visivelmente preferidos pelos germanos.
Tendo alcançado a vitória, as forças romanas prepararam-se para retornar. Aí, porém, tiveram que enfrentar um inimigo poderoso, com o qual não havia a possibilidade de qualquer negociação: o mar em fúria. Tendo deixado a terra com tempo bom, logo as embarcações foram batidas por vento fortíssimo, acompanhado de chuva, de modo que ondas gigantescas jogavam as embarcações de um lado para outro. Em desespero, a soldadesca, que nunca tinha enfrentado nada semelhante, atrapalhava as manobras dos marinheiros, ao mesmo tempo procurando jogar ao mar tudo o que era possível - segundo Tácito, historiador romano, não foram poupados cavalos, animais de carga, bagagem, suprimentos e nem mesmo as armas.
Tudo em vão. Muitos morreram afogados, enquanto outros, com um pouco mais de sorte, foram arremessados em ilhas desertas. Ainda de acordo com Tácito, os que se recusaram a comer os cavalos mortos que eram jogados na praia pelas ondas simplesmente morreram de fome. O próprio comandante Júlio César Germânico sobreviveu a duras penas. 
Cessado o furor da tempestade, fez-se uma tentativa de reparar as embarcações que ainda existiam, com o uso de velas improvisadas. Uma busca em algumas ilhas permitiu reunir um número maior de soldados. Soube-se, posteriormente, que alguns tinham ido parar na Inglaterra. 
É certo que esses sobreviventes tinham muito a contar, e pode-se supor que não faltou quem quisesse ouvir. Diz o relato de Tácito, no Livro Segundo dos Annales:
"De quanto mais longe voltavam, maiores eram as coisas fantásticas que contavam sobre a violência da tempestade, a existência de aves completamente desconhecidas, de monstros marinhos e de seres que eram metade humanos e metade animais" (¹). E o prudente Tácito concluiu: "Coisas vistas ou coisas que o medo fazia crer" (²). 

(1) O trecho citado é tradução de Marta Iansen para uso exclusivo no blog História & Outras Histórias.
(2) Ibid.


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